terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Trail de Montejunto, fui feliz

No domingo fui feliz em Montejunto. 
Estava a precisar disto. De me afastar de Lisboa, de me distrair correndo por montes e vales e em boa companhia. 

Às 6h30 estava a sair de Lisboa em direcção à Serra de Montejunto. O meu companheiro nesta viagem foi o Vitor. Num instante chegámos a Vilar, a localidade que acolheu a partida e chegada desta prova. O frio que se fazia sentir...gostava de descrevê-lo mas há coisas que só sentindo. Estava mesmo muito frio. Vilar situa-se num vale e até que o sol saísse de trás da serra ainda sofremos um bocadinho com o frio.

Esta cabeça de vento levou gorro, levou luvas mas esqueceu-se de levar corta-vento.Felizmente que o Vitor tinha um a mais. E mal eu sabia o jeito que aquele corta-vento me viria a dar...Mais uma vez muito obrigada Vitor. Ainda bem que insististe para que eu o levasse :)

Aquela ali de gorro, luvas e corta-vento sou eu...
Ainda dá para reconhecer pois por baixo está a camisola amarela ;)
Foto by Vitor
Depois de algumas fotos tiradas no local da partida que atrasou um pouco, chegou finalmente a hora de nos pormos a correr dali para fora.

Saímos então de Vilar que era maior do que eu estava à espera e passado um bocado estávamos a correr aqui:


Foto by Vitor

Não tardaria muito a começarmos a subir. Havia de vez em quando umas ligeiras descidas para corrermos um bocadinho mas seguiam-se subidas.

A subir em direcção a uns moinhos bem pitorescos.
A seguir vinha o primeiro abastecimento. Aproveitámos para beber algum isotónico e seguimos caminho.
O vento que se fazia sentir era bem forte, mas mal sabíamos nós que mais à frente íamos apanhar vento ainda mais forte! Minhas ricas orelhas felizmente protegidas por um gorro. As luvas cedo foram para dentro da mochila e daí não mais saíram.


Não...aqui não estava vento nenhum...
Foto by Vitor
Já perceberam que passámos o tempo a tirar fotografias. Mas é impossível não o fazer, as paisagens são belíssimas e a vista lá de cima é espectacular.

Corremos nas zonas planas e nas descidas sempre que o piso o permitia. Nas subidas....dependia...se fossem ligeiras até podíamos tentar correr um bocadinho. Agora naquelas subidas íngremes como o caraças, que mais parecem um carreiro de cabras...Só se for para me matar. 

Uma simpática atleta ofereceu-se para nos tirar uma foto.
Esta era a vista lá de cima.
Foto by Vitor.
Daqui para a frente começámos uma subida de caminho de cabras que só visto. Single track, ninguém conseguia ultrapassar ninguém e mesmo que conseguisse, what's the point? Era íngreme até dizer chega, o piso era irregular, tinhamos que ir com os olhos postos no chão para vermos bem onde colocávamos os pés. Se queriamos ver a bela vista tinhamos de parar um pouco.

Acho que foi nesta altura que a montanha fazia uma curva e de repente levámos com o vento com toda a força. Bendito gorro, bendito corta-vento, bendito Vitor. Um vento gelado! Nunca tinha apanhado tanto frio nem tanto vento numa prova. Mas são estas experiências que enriquecem e que nunca esqueceremos.

Continuámos a subir num caminho já ligeiramente mais largo e com umas antenas em vista.

O Vitor.
Não se percebe mas vamos a subir e não é pouco.
Eu.
Eu não disse que era a subir?
E reparem bem no piso...
As tais antenas que estão no topo da serra. Iriamos até lá,
continuando a subir, depois descendo ligeiramente
 e depois novamente a subir.
A vista lá de cima...E nem sequer estávamos ainda no ponto mais alto.
Quando chegámos aqui conseguiamos ver o mar e como a costa portuguesa nunca mais acaba. Vi uma grande terra junto à costa que tenho quase a certeza ser Peniche pois ao fundo via-se uma ilha que só poderiam ser as Berlengas. Lindo, lindo, lindo! Nesta altura comentei com o Vitor que se uma pessoa estivesse a pensar em emigrar (sei lá...eu por exemplo...) chegava ali e desistia da ideia. Quem é que pode sair dum país tão belo? Não quero que se assustem com isto. Não vou emigrar. Em principio. Mas a ideia tem-me vindo à cabeça nas últimas semanas com mais frequência do que devia. Tenho coisas que me "prendem" aqui em Portugal e uma delas é a corrida. Eu sei que posso correr em qualquer sítio, mas custa-me deixar estas corridas e este convívio. Há muita coisa que me trava, mas ao mesmo tempo precisava de alguma coisa mesmo forte que me travasse mesmo. Naquele momento pensei "UAU! Não quero sair daqui!". Até comentei com o Vitor que montava ali uma tenda e ficava ali a viver. O principal senão era o frio...A montanha faz-nos viver sensações muito fortes. Sensações que queremos continuar a sentir por muito tempo. Agora que já estou de volta à cidade apetecia-me ter ficado na montanha, apetecia-me ter ficado por lá a correr e a caminhar durante um dia inteiro. Quando estivesse cansada parava e sentava-me numa rocha a observar a paisagem.

Mas chega de desvarios. Voltando (infelizmente) à realidade. Continuemos com o relato.
Depois daquela vista impressionante sobre a costa portuguesa, começámos a descer. Aqui não havia um trilho definido, haviam as marcas da organização e só por isso soubemos qual o caminho porque basicamente corremos no meio de ervas. Não descemos por muito tempo pois ainda teriamos de subir em direcção às antenas, até ao topo. E assim o fizemos. Lá chegados começámos novamente a descer, agora já durante mais tempo e com uma pequena incursão no alcatrão. Passado um pouco estávamos no segundo abastecimento onde pelas conversas percebemos que tinham havido alguns erros da organização e algumas queixas de atletas. Bebemos novamente isotónico, a única banana que sobrava ficou para mim. Acabei por oferecer metade ao Vitor e um bocado a outro atleta que vinha a queixar-se de caimbras. 

Depois deste abastecimento metemos outra vez pelo meio dos arbustos e continuámos a descer. Nalgumas zonas tinhamos de ter algum cuidado pois o piso era muito irregular mas sempre que o piso melhorava toca de correr.  

O único km a merecer um pórtico.
Foto by Vitor.
Ainda haveriam mais umas subidas mas já nada de especial. Voltámos a passar ao pé dos moinhos e continuámos a descer, a certa altura já em alcatrão. Entrámos numa povoação, acho que ainda não era Vilar mas não tenho a certeza. Um rapaz estava com um garrafão a perguntar se queriamos água mas ambos ainda tinhamos água mais que suficiente. E mais à frente marcado com tinta da organização no meio da estrada estava uma seta a apontar para o lado esquerdo e dizia "xixi". Aquilo foi tudo tão repentino e estávamos tão ocupados a rir-nos da seta no chão a dizer xixi que nos esquecemos completamente de tirar uma foto. 

Se inicialmente estávamos a apontar para as 4h ou mais de prova. Acabámos por fazer 3h45, apenas porque conseguimos recuperar algum tempo na descida porque a maioria das subidas só a passo. Nestas coisas já se sabe que o tempo é completamente secundário, o que conta é a experiência vivida, a companhia, as paisagens, o desafio.

No final ainda nos deram mais uma banana e uma garrafinha de tinto :) E era à escolha, podiamos escolher branco ou tinto. Simpático. 
Também tivemos direito a t-shirt que nos foi dada logo de inicio e não faltaram abastecimentos. O percurso estava bem sinalizado, havendo ou marcas na estrada ou fitas nos arbutos. Nunca nos enganámos.
Não tenho nada de negativo a apontar à organização. A minha prova correu muito bem. Mas pelo que sei parece que não correu tão bem a outros e esta pode bem de ter sido a primeira e última edição do Trail de Montejunto. Espero bem que não o seja pois gostei bastante. E se houve erros a organização terá de facto de os corrigir numa eventual próxima edição. Esperemos que tudo se resolva.

Os meus ténis portaram-se super bem. Em boa hora os fui comprar pois nesta prova com ténis de estrada...provavelmente tinha-me espalhado ao comprido várias vezes.

Para terminar quero agradecer ao Vitor pela boleia mas sobretudo pela companhia. Sempre na conversa e a trocar experiências a coisa faz-se muito melhor. E obrigada pelo corta-vento salva-vidas :)

21 comentários:

  1. Bom... fico logo conquistado pelo artigo quando leio no título "fui feliz". Isso é que conta!

    As paisagens são mesmo bonitas e em companhia as dificuldades parecem menores.

    Beijinhos e continua sempre a ser feliz :)

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    1. =) Sempre que possível vou pôr o meu melhor sorriso.
      Beijinho padrinho

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  2. Se não for essa organização, há-de ser outra, porque é um local bonito.
    Infelizmente também já tive esses pensamentos de ter de emigrar... E eu acho que correria feliz em qualquer outro lugar, porque o mundo é lindo, mas custa-me largar a família e os meus... Enfim, tópicos mais alegres! :) -> Parabéns por esta escapadinha frescota, que trouxe paz de espírito.
    Beijinhos grandes!

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    1. Às vezes custa saber que estudei anos e anos para isto, mas é resistir e batalhar e dias melhores virão.
      Beijinhos

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  3. Mais um excelente relato Isa e um bom inicio no caminho para o UTSM ;)

    Tens o trail de Bucelas em Fevereiro nos teus planos?

    Beijinhos

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    1. Ainda há um longo caminho a percorrer até ao UTSM mas lá chegarei :)
      Estou a pensar nisso ;)
      Beijinhos

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  4. Parabéns Isa! Em boa hora aceitaste o corta-vento, peça fundamental para se fazer uma prova destas ainda mais nesta época do ano, em que o frio e o vento não dão tréguas.
    Emigrar?? Ó valha-me Deus! Foi só um devaneio, não foi Isa? A corrida em montanha tem destas coisas, deve ser da altitude, faz-nos pensar demasiado...

    Vá... Deixa-te estar por cá que eu gosto de te ver a correr por cá! :)
    Beijinhos

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    1. Foi um devaneio que me tem vindo à cabeça mais vezes do que devia. Mas obrigada pelas tuas palavras, acredita que ajudam e muito. Por enquanto por cá vou ficando.

      Beijinho grande.

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  5. Sorte a sua ter sido feliz ali. Este trail merece continuar mas é com outros! Esta organização foi do pior que já vi!
    Muita falha nas marcações. Pessoal da organização sentado em cima das marcações e a apontar o caminho errado.
    Pessoal que andou perdido e ligava para os telefones da organização e NENHUM ATENDIA!!! E se fosse uma situação grave?
    E os abastecimentos sólidos para a longa? Onde estavam?
    Não sei como foi a corrida curta, como a menina fez, mas a longa foi má demais. Nunca mais me apanham lá. Esta organização só quer é dinheiro.
    Já me pergunto porque é que cada vez fazem mais provas de trailes? É que aqui não pagam a polícia e as taxas de trânsito como nas outras e mesmo assim são caras.
    Há muita organização sem categoria e que só quer ganhar dinheiro.
    Com estes, nunca mais!!!
    Até abandonaram o abastecimento ao km 35 quando havia atletas em prova!
    E não me falem em falta de experiência que estive em Ferreira do Zêzere que foi também estreia e esses deram uma lição de como bem fazer.
    Olhem que até corrigiram um problema que houve com as classificações da curta, falhou a cronometragem mas estiveram a analisar todas as fotografias e conseguiram refazer a classificação quase toda, depois de horas e horas de trabalho.
    Esses sim, mostraram gosto e respeito pelos atletas.
    Estes, até desrespeitaram os regulamentos que eles próprios fizeram...
    A menina vai desculpar-me estas palavras mas fiquei muito zangado com o que se passou na longa. Foi brincar com o nosso esforço.

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    1. Caro Zé, não se preocupe. Compreendo perfeitamente a sua revolta.
      Ouvi dizer de facto que a organização cometeu grandes falhas e já li também que assim o foi. Apenas me limitei a relatar a minha prova que felizmente correu bem. Não achei que a organização estivesse espectacular mas não notei, na minha prova repito, nenhuma falha grave.

      Será melhor reclamar junto da organização através de email por exemplo para que estas coisas possam ser corrigidas e umas organizações aprenderem com as outras.

      Melhores corridas para si Zé.

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  6. Se foi a ultima fico com pena... espero que não... pois er auma prova que queria marcar no meu calendário 2014 :)
    Cá em casa aos Domingos o destino pelo triatleta meu irmão é Montejunto em jeito de treino de bicicleta, e ele está sempre a dizer que um dia tneho de lá ir porque aquilo é divinal!!!
    E ao ler o teu relato e ver as tuas fotos apercebi-me disso. E ainda bem que foste FELIZ!!!! Isso no final de tudo é o que importa :)

    Beijinhos

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    1. Espero mesmo que não. Mas se for preciso um dia vamos todos correr a Montejunto :)
      Beijocas afilhada.

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  7. Como seria de esperar, mais um excelente relato.
    Gostei muito da prova, percurso muito bonito e feito na tua companhia. Espetáculo! Obrigado pela partilha do momento.
    A emigração da malta nova e qualificada é um dos nossos grandes problemas. O que será do nosso futuro? Espero que consigas realizar os teus sonhos em Portugal, porque como tu dizes, o nosso País é lindo.
    Como já disse atrás, eu é que agradeço a tua companhia.
    Isa, melhores dias virão.

    Beijinhos

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    1. Obrigada Vitor.
      O percurso era bem bonito e a vista lá de cima era espectacular.
      Beijinhos

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  8. Olá Isa...que belas fotos de uma prova, que além de ter sido um domingo bem passado, um excelente treino foi tb uma boa aprendizagem...aposto que nunca mais te esqueçes do corta-vento :)
    Quanta a emigrar, espero que não seja necessário.
    Beijinhos e boa recuperação

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    1. Epá, não gozes. Se não fosse o Vitor eu estava agora transformada numa estátua no meio da Serra de Montejunto :)
      Também espero que não, estou a resistir com todas as minhas forças.
      Beijinhos

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  9. Parabens Isa , e obrigado pelo "relato" magnifico !

    á muitos anos que não vou a Montejunto , e nunca corri por lá , espero que haja mais provas nessa espectacular serra (mais uma do nosso magnifico pais) ;)

    ...não gostei da parte de "imigrares" , olha que lá fora tambem não está facil , mas isso fica na vontade de cada um !
    ...mas isso é um assunto para outras conversas :)

    ...parabens Isa , mais uma grande participação.

    bjs
    ajb

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    1. Obrigada.
      Eu já lá tinha estado também mas de carro. E de facto a pé é outra coisa :)
      Beijinhos

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  10. Já corri aí (eram os 11 km de Montejunto, precisamente subir às antenas e voltar) e sim, a Montanha oferece-nos beleza ímpar e correr nela é outro mundo!

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    1. Também já fiz os antigos 11 km de Montejunto que fala a Ana Pereira (julgo que mais de uma vez).
      Lembro-me de uma subida por um leito de um rio seco, pejado de pedras, e eu cheio de força por ali acima.
      Na minha vida de corredor onde fui mais feliz foi sempre na montanha embora tenha apanhado lá os maiores empenos da minha vida!
      Beijinhos.

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