Amigos,
Como todos sabem no passado sábado fomos até Portalegre para a grande aventura do ano, os 100 km do UTSM. Infelizmente, como muitos já sabem, fomos impedidos de continuar em prova aos 97/98 km, no PAC10, após termos conseguido passar todos os PAC's onde haviam cortes oficiais descritos no regulamento. Ora segundo o regulamento e de facto o limite final eram 24h. Aceitamos. Mas esse limite era na meta! Já fizemos umas quantas ultras, umas onde fomos barrados, outras não, mas lembro-me por exemplo dos Abutres onde chegámos a um abastecimento já após as horas de corte onde deveríamos era estar já no abastecimento seguinte! E lembro-me bem do que nos disseram "Podem continuar pois aqui oficialmente não vos podemos barrar, mas serão barrados no próximo abastecimento." Isto sim é cumprir o regulamento!
Sim, no UTSM havia um limite de 24h mas esse limite é na meta! Mesmo assim, acho deveras irónico que se defendam com essa, e depois classifiquem atletas com mais de 24h todos os anos! Inclusive que coloquem em destaque no Facebook da prova um filme com uma chegada à meta com mais de 25h!
Mais, nós não pedíamos sequer que nos classificassem, pedíamos sim que nos deixassem terminar. Custava muito que o permitissem? Mais, nós estávamos em condições de continuar e os senhores da organização viram-no. Claro que estávamos estoirados! São quase 98 km nas pernas! Mas apesar disso estávamos bem, ninguém estava a cair para o lado, e estávamos com uma vontade férrea de terminar. Nós e a atleta que conosco seguia, a Maria.
Agora, o pior de tudo!!! A arrogância por parte do director da prova! Uma coisa como eu nunca vi igual. E provavelmente se não o tivesse testemunhado também me custava a acreditar. Mas acreditem que é verdade, até o João que estava ao telefone com o Vitor nesse momento ouviu as palavras deste senhor.
Chegados ao PAC 10 onde oficialmente no regulamento não havia nenhum barramento e estando já com quase 98 km nas pernas, apesar de supostamente ali ser o km 95, somos informados pelos voluntários que não poderíamos continuar. A atleta que seguia conosco pediu de imediato para falar com o director da prova, colocaram-nos ao telefone com ele, segundo nos disse, ele desligou-lhe o telefone na cara...
Quis eu falar com o director da prova, atendem-me dizendo que o director não pode falar porque vai a conduzir a caminho do PAC onde nos encontrávamos. E para quem não conhece o UTSM, esta prova começa e acaba em Portalegre, o quão mau é sermos barrados já em Portalegre, onde já se situa o PAC 10!!! Damos a volta toda à serra e acabamos por ser barrados às portas da meta.
Quando o director da prova chegou, pensam que foi cordial conosco? Pensam que nos explicou porque estávamos a ser barrados? Nada disso amigos, simplesmente mostrou-se sempre altivo e arrogante e a primeira frase que saiu da sua boca foi "Estou aqui para transportar os atletas até ao estádio". Começa bem...A isto respondemos os três que queremos continuar, queremos terminar, vai daí responde novamente arrogante "Se quiserem continuar vão por vossa conta e risco." Continuamos a tentar que nos deixem prosseguir, alegamos que este barramento não constava do regulamento, pelo menos que nos deixassem chegar à meta. A Maria referiu, e nós também, que tinham escarrapachado no FB deles o tempo do último atleta do ano passado, mais de 25h! Nós estávamos no PAC 10, a menos de 5 km da meta, pelo que já ouvimos dizer de atletas amigos, 5 km até relativamente fáceis!
Referimos também que isto era gozar com o nosso sofrimento e com a nossa superação, praticamente ignoraram-nos, não foram nada compreensivos, nem uma palavra de conforto. Zero. E depois veio a melhor parte....
Quase ao mesmo tempo eu e a Maria dissemos que iríamos apresentar uma reclamação. O director da prova respondeu-nos com um gesto de desprezo com a mão e disse "Epá, façam como quiserem!" numa atitude claramente arrogante e de quem se está bem a lixar para nós. Foi duma insensibilidade incrível e duma falta de respeito que nem há palavras para definir. Não pensem que estou a exagerar, pois felizmente há várias testemunhas, estavam lá vários voluntários e inclusive nesse momento o Vitor estava a falar com o João ao telefone que ouviu tudo.
Isto para nós foi o pior de tudo! Não basta sermos barrados a meros 5 km da meta quando até demonstramos estar em condições de prosseguir e num PAC em que oficialmente não poderia haver nenhum corte, mas somos tratados de forma desumana, sem qualquer respeito pelo nosso esforço das ultimas 24h e 98 km de prova.
E é incrível que a organização respeite tão rigoriosamente os limites mas não respeite a distância..Sim, porque já ouvi falar em 102 e 103 km, se calhar se a prova tivesse mesmo os 100 km até tinhamos terminado antes das 24h...mas isso nunca saberemos.
Só sabemos que vivemos uma grande aventura que nunca esqueceremos, infelizmente terminou mal e pelos piores motivos.
Agora há mais provas, há mais corridas e sobretudo há uma certeza, não voltaremos ao UTSM.
Já fomos muito felizes no UTSM em anos anteriores e este ano até ao PAC10, mas depois da forma como fomos tratados, podem ter a certeza que não voltamos a meter lá os pés.
Abaixo o email enviado por nós à organização (se calhar demasiado respeitoso dirão alguns...pela forma como fomos tratados...mas somos nós, a Isa e o Vitor, o casal que só quer correr feliz e que nunca falta ao respeito a ninguém...é pena que nem todos sejam assim):
"Boa noite,
O meu nome é Isadora Costa, dorsal 1060 no UTSM 100 km. Participei na prova com o meu namorado Vitor Gonçalves, dorsal 1059 e vimos por este meio demonstrar o nosso profundo desagrado pela forma como fomos tratados no PAC10 do UTSM pelo director do UTSM.
Somos dois atletas que apesar de lentos já andam nisto há algum tempo, não partimos para os 100 km de ânimo leve. Já corremos umas quantas ultras, entre as quais Serra d'Arga (53 km), Sicó (65 km), Óbidos (57 km) só para dar alguns exemplos. Já fomos a São Mamede duas vezes participar na distância dos 42 km e adorámos a prova, fomos sempre bem recebidos e nunca tivemos nada a apontar à organização.
Sonho com os 100 km há pelo menos dois anos e pelo carinho especial que sentimos por esta prova sempre dissemos que gostaríamos de nos estrear nos 3 dígitos nesta prova.
Este foi o ano.
Sabíamos que seria duro. Para quem não é? Afinal de contas são 100 km, mas também sabíamos que tínhamos capacidade para a terminar. Sabemos que somos lentos, mas o desporto não é para todos? Na minha opinião o bonito de uma maratona ou de uma ultra é precisamente pessoas "normais" conseguirem concluir tamanha façanha. É necessário treino e muito espírito de sacrifício.
Este ano partimos rumo ao sonho e tudo correu bem.
Tudo impecável, bons abastecimentos, percurso bem marcado e voluntários 5*.
Óbvio que não foi fácil, a partir de certa altura começam a haver pequenas dores, pequenos entorses e a coisa vai custando cada vez mais. Mas fomos controlando os tempos limites e conseguindo passá-los a todos, o 1º, no PAC 3 aos 30 km passámos com cerca de 1h15m de avanço. O segundo, no PAC 6 que já surgiu aos 61 km e pouco, foi passado com cerca de 45 minutos de avanço e o últimocontrolo (segundo o regulamento), no PAC 9 que já surgiu aos 91 km, ao contrário dos 89 anunciados já foi passado com pouco menos de meia hora de avanço.
Aqui fomos apanhados pelo atleta vassoura que acompanhava a última atleta, a partir daqui seguimos todos juntos.
Chegados ao PAC10 somos informados que não poderíamos continuar pois essa era a ordem que tinham. Manifestámos de imediato a nossa vontade de continuar.
A atleta que seguia conosco pediu de imediato para falar com o director de prova. Segundo nos disse o director desligou-lhe o telefone na cara.
Entretanto tentei eu (Isadora Costa) ligar para o director ao que meu foi respondido que nesse momento não podia atender pois ia a conduzir e seguia em direcção ao PAC 10. Até aqui tudo bem.
Entretanto assim que o director de prova chegou junto de nós a primeira coisa que disse foi apenas uma declaração "Estou aqui para transportar os atletas até ao estádio" ao que de imediato respondemos que queríamos continuar, queríamos terminar a grande epopeia. Respondeu-nos sempre de forma arrogante dizendo que se quiséssemos podíamos seguir por nossa conta e risco, quando dissemos que não nos podiam barrar pois ali oficialmente não era nenhum barramento e que queríamos apresentar uma reclamação, a isto o director respondeu de forma extremamente rude "Epá, façam o que quiserem!". Isto não é forma de um director de prova falar com os seus atletas, ainda por cima tendo nós acabado de fazer 97 km.
A nossa reclamação vai precisamente nesse sentido, na forma como fomos tratados. Não faltámos ao respeito a ninguém, apenas manifestámos o nosso interesse em continuar, pois estávamos em condições de o fazer, o que até deveria ser motivo de orgulho para a organização. E o que recebemos em troca? Palavras arrogantes, rudes e um director que não olhava sequer nos nossos olhos enquanto falava conosco
Falando no barramento em si, podem alegar que o tempo limite da prova eram 24h, mas segundo o regulamento só existem 3 barramentos antes da meta, logo, a única coisa que seria admissível era deixarem-nos continuar até à meta, completando assim a distância, e nessa altura se nos informassem que não seríamos classificados pois havíamos chegado após as 24h mencionadas no regulamento, aí sim teríamos de aceitar. Mas ao menos teríamos completado a distância e os senhores estariam aí sim a seguir o regulamento.
Também não percebemos porque foram tão rigorosos este ano quando nos anos anteriores foram tão benevolentes e não só deixaram passar como até classificaram atletas com mais de 24h de prova. Então mas eles não terminaram após as 24h?...
Portanto...apesar de terem terminado após o limite até foram classificadas...logo cai logo por terra o vosso argumento das 24h.
Mais, porque têm até um vídeo em destaque no Facebook da prova onde mostram um tempo de chegada de 25:14:02 no ano passado?...
Mais, este ano há atletas classificados após as 24h...então mas em que ficamos?
Nós não pedimos para sermos classificados, nós só queríamos terminar. Nem a medalha pedíamos. E estávamos em condições de terminar! Quem está 24h sem dormir, sempre em movimento, merece mais consideração e mais respeito por parte do director de prova.
Não está em causa, nem nunca esteve a organização geral da prova! É o terceiro ano que participamos e até este momento não tínhamos razões de queixa.
Mas a atitude e forma de estar do director de prova foram más demais e não podemos aceitar as respostas dadas, os "Epá, façam o que quiserem". Isto é uma resposta inaceitável vinda de uma pessoa com tamanha responsabilidade e supostamente com conhecimentos do que é ser atleta e do sofrimento porque passam os atletas.
Na nossa opinião gozaram com o nosso sofrimento.
E relembro que quem "faz" as provas são principalmente os atletas de pelotão, os de cá de trás. São esses que muitas vezes têm grandes histórias de vida.
O que aconteceu foi mau demais. Para nós manchou completamente o sentimento de carinho que tínhamos com esta prova. Tudo isto poderia ter sido facilmente evitado com alguma sensibilidade e bom senso.
Gostaríamos de obter uma resposta vossa.
Cumprimentos,
Isadora Costa e Vitor Gonçalves"