domingo, 30 de novembro de 2014

GP Mendiga, o regresso daquelas dores famosas...

No domingo 23 fomos até Mendiga na expectativa de ver quão especial é esta prova. O João sempre falou tão bem desta corrida que tínhamos que a ir conhecer.
Mendiga é uma pequena terra em plena Serra d'Aire e Candeeiros.
Ainda não tínhamos começado e já se antevia uma corrida bem bonita, pois à volta é só serra.

Desta vez tive um 8 no dorsal :)
Mas não deu muita sorte...

Fizemos um ligeiro aquecimento (demasiado ligeiro...) e dirigimo-nos para a partida.
Fizemos asneira (entenda-se eu fiz asneira pois o rapaz não tem culpa) e começámos logo a acelerar. Nem 1 km percorrido e elas despertaram....sim...as dores nas canelas...eu a pensar que já me tinham deixado em paz...mas analisando a coisa à distância e tendo em conta os treinos que entretanto fiz (sem dores) penso que posso dizer que as dores aparecem quando não aqueço bem e começo logo a puxar. 
NOTA PARA MIM: Isa, nunca comeces a acelerar logo no 1ºkm. Tens muitos km's pela frente e aí então aceleras,ok?

E pronto, não há grande coisa a dizer sobre a minha prova.
Sofri nos primeiros km's, depois passou mas já estava desanimada e portanto limitei-me a fazer aquilo que desejava: terminar a prova. E foi o que fiz.

Apesar da minha corrida não ter sido espectacular, tenho que dizer que é uma prova lindíssima. Provavelmente das provas de estrada mais bonitas que já fiz. Sempre com a vista sobre a serra e sobre os campos. Passámos junto a touros, vacas, ovelhas e cabras. Juro-vos que ficaram todos a olhar para nós enquanto passávamos por elas a correr :)
Também vi uma cobra! Já no final e já dentro de Mendiga vi uma cobra pequena à beira da estrada. Estava demasiado quieta por isso penso que estava morta. Anda uma pessoa a correr em trilhos por esse Portugal fora e a primeira vez que vê uma cobra numa corrida é numa de estrada e já dentro da povoação. Ele há coisas!!!

É uma prova bonita mas também com algum sobe e desce. Foram cerca de 16 km em 1h41, foi o possível tendo em conta as dores que tive inicialmente.

A chegarmos à meta.
Foto tirada pelo João.

Após um banho bem quente, fomos almoçar. E depois do almoço convívio houve a entrega dos prémios e um sorteio.

O atleta mais velho em competição.
80 anos se não estou em erro.
Impressionante!
Ah e depois havia uma banca ENORME cheia de bolos ;)

Foi mais uma prova na boa companhia de amigos e do namorado.
Gostávamos de voltar para o ano. Para a devida vingança ;)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Trail do Zêzere, dos mais lindos (e duros) que já fizemos

Já andávamos cheios de saudades de um trail. Há mês e meio que não corríamos pelos trilhos de Portugal, a última vez tinha sido em Arga.

Para este fim-de-semana tínhamos várias opções em trilhos mas optámos pelo Trail do Zêzere com 30 km. Tenho pena de ter falhado a Corrida do Monge pois foi a minha estreia em trilhos mas ir conhecer um novo trail falou mais alto :)

O dia amanheceu com algum nevoeiro que aos poucos começou a levantar. Estava frio mas com manga comprida aguentava-se.

Foi dado um pequeno briefing antes da prova e às 9h30 estávamos a partir para mais uma aventura.
Começámos a correr pelas ruas de Ferreira do Zêzere e passado um pouco estávamos a embrenhar-nos na serra. Os primeiros km's foram um pouco penosos para mim. Estava ligeiramente constipada e com zero treinos em trilhos nas últimas semanas. Foi algo penoso começar a subir. E esta prova teve mesmo muitas subidas. 1000 e tal m de desnível positivo em 30 km. Fui uma boa parte dos primeiros km's da prova a reclamar baixinho comigo própria que não tinha jeitinho nenhum para aquilo. "Para que é que eu insisto em meter-me nestas coisas? Não nasci para isto."
Mas a verdade é que correr no meio da natureza tem um efeito apaziguador e aos poucos comecei a desfrutar da aventura e das paisagens lindíssimas. Assim como da dureza e tecnicidade da prova.



E depois há a confraternização com os outros atletas. Ouvi uns senhores a falarem em inglês e meti conversa para saber de onde eram, A senhora, muito simpática, respondeu que eram de Inglaterra. Ao que eu respondi "E vieram aqui a Portugal fazer isto!" A senhora sorriu. Disseram que estavam a adorar, no Surrey não tinham nada disto, disse ela. Por isto, depreendo que ela queria dizer paisagens lindas, subidas brutais e descidas lamacentas.... ;)

Com cerca de 1h de corrida fiz as pazes com os trilhos. Epá, posso ser lenta, posso não ter jeitinho para as descidas mas quero lá saber, por isto vale a pena!!!


Sem palavras.

Depois desta paisagem de cortar a respiração descemos até junto ao rio onde estava colocado o primeiro abastecimento. Comi apenas batatas fritas e gomos de laranja. E que laranjas!! Já não comia laranjas tão boas desde sei lá quando. Não tinham tomate com sal mas foram logo perdoados assim que provei aquelas laranjas. Tão docinhas! 

Depois de as energias estarem repostas seguimos caminho a subir, claro! Uma zona muito técnica mas muito verde. Até que chegámos junto a uma cascata e olhámos para o outro lado e percebemos que íamos ter que escalar entre as rochas. Sim, escalar com recurso a corda! Mas até foi relativamente fácil. Mal sabíamos nós a escalada que ainda nos aguardava....

Eu tinha que pôr esta foto.
Eu estou apenas a subir e a agarrar-me à árvore
mas mais parece que estou a dançar...
Figurinhas...
Mais figurinhas...
A subir toda curvada.
A chegarmos ao pé da cascata.
Aquela rocha em frente foi para escalar!

Claro que as fotografias não fazem justiça
à beleza da cascata.


Depois desta primeira escalada era uma zona plana e depois começámos a descer, se bem me recordo. O problema é que havia alguma lama (não tanta como em Bucelas...) e descer com lama é um convite a quedas. Descemos o mais cuidadosamente possível mas não consegui evitar um "bate cú". E foi assim que fiquei com uma nova pintura :) Depois de descermos não sei quanto tempo por caminhos bastante escorregadios foi altura de subirmos novamente. AI A MINHA VIDA!!! Mas pronto não foi mau de todo. Foi por esta altura que tivemos que passar numa zona de rochas onde os atletas com mais vertigens devem ter tido alguma dificuldade. Era uma zona mais perigosa mas havia voluntários por todo o lado a avisarem para termos cuidado e a informarem que haviam cordas para nos podermos agarrar lá. 
Neste sentido a prova foi exemplar. Sempre que haviam sítios mais "perigosos" haviam sinais de perigo o que logo nos fazia redobrar a atenção. Não faltaram voluntários e bombeiros nessas zonas mais problemáticas. Muito bem organizado!



Foi mais ou menos por esta altura que raspei numa rocha mais pontiaguda e fiz um arranhão grande na perna. Foi grande mas pouco profundo. Um pouco de água para limpar e está bom. Siga! :)
Pouco depois agarrei-me a um arbusto e espetei um pico no dedo. AU! Com as unhas consegui tirar o pico do dedo. Tudo me acontece hoje, mas são coisinhas com pouca importância e ISTO É O TRAIL! Por isso SIGA!

Depois disto lembro-me que voltámos a subir mais à frente. Numa ou noutra altura dava para correr e aproveitámos sempre que era possível para dar corda aos sapatos. Por esta altura também chegámos à conclusão que íamos demorar umas 6h a fazer isto. 30 km em 6h! Nunca demorámos tanto para fazer 30 km! Com tanta subida e descidas tão técnicas e lamacentas...

Depois de um abastecimento de líquidos voltámos a correr mais um pouco, mais uma vez com zonas técnicas e eu a QUASE cair novamente na lama. Acabámos por chegar ao último abastecimento. LARANJA!!!! É que eram mesmo boas!!! :) 
E depois seguimos novamente. Seguiu-se a zona mais corrível da prova. Foi tentar acelerar para tentarmos recuperar algum do tempo perdido no inicio da prova. Soube mesmo bem podermos correr continuamente durante uns 2 km. Por esta altura tínhamos deixado para trás o casal de ingleses e o companheiro de provas deles, já as outras duas atletas que iam também quase sempre junto a nós já tinham seguido a boa pedalada.

Depois desta zona mais corrível, praticamente a única em toda a prova, chegámos junto a uma cascata lindíssima como podem ver pelas fotos. Já sabem que metade do tempo destas provas nós passamos a tirar fotos ;) Porque senão éramos os primeiros a chegar à meta, nem tenham dúvidas... =P




Ah e tal tão bonito e depois o Vitor chama-me a atenção para o que se segue.
Vejo rochas, bombeiros e uma corda no meio. Ah vamos ter que subir aquilo??!!??
Haviam duas cordas e vários bombeiros a supervisionarem o local. É impossível não nos sentirmos seguros. Mas que mete respeito, lá isso mete. Tivemos que trepar com bastante cuidado e ver bem onde colocávamos um pé antes de avançarmos com o outro. Nunca havíamos feito nada deste género mas eu cá adorei! :)

Depois de ultrapassada mais uma dificuldade seguimos decididos até à meta. Já não faltava tudo. Foi mais ou menos por esta altura que nos começámos a cruzar com alguns atletas da ultra (55 km) e foi também por esta altura que conseguimos alcançar as duas atletas que tinham seguido conosco durante alguns km's. Tentei animá-las "Bora lá! Só faltam 2 km." Mas vi que já estavam um pouco cansadas. Nós, pelo contrário, estávamos melhor do que quando começámos e agora seguíamos a bom ritmo para terminarmos em grande. O Vitor ainda teve uma ameaça de caimbra mas depressa passou.

E de repente avistámos o pavilhão onde estava instalada a meta! Entrámos e cortámos a meta com pouco mais de 6h. Foi mais uma aventura e sobretudo foi um treino excelente para os Abutres!

A organização está de parabéns. 
Os km's estavam todos marcados, o percurso muito bem assinalado e as zonas mais perigosas tinham cordas e bombeiros atentos.
Os abastecimentos eram bons, embora pudesse haver mais um de sólidos mas foi bom na mesma. As laranjas estavam óptimas :)
Recebemos uma bonita t-shirt técnica e um simples mas bonito troféu.
Com paisagens tão deslumbrantes e dificuldades qb não se pode pedir mais!
Está no top 3 dos trails mais bonitos que já fiz!

E com a companhia do namorado então, que mais querias tu Isa?

Venham daí os Abutres! (que 30 km já sabem a pouco)

sábado, 15 de novembro de 2014

Volta à Nazaré, recuperação na "mãe"

Depois da maratona optámos por ir à "mãe" versão light. Ou seja, em vez de irmos à Meia-Maratona da Nazaré, irmos à Volta à Nazaré, apenas 7 km e picos para rolarmos.

Depois da última maratona, em Sevilha, tinhamos ido aos 20 km de Cascais (que acabou por ser a "Meia" de Cascais se bem se lembram) e corremos lindamente. Mas depois nas provas seguintes sentimos que tinhamos abusado na recuperação. A recuperação é isso mesmo que o nome diz, recuperar de algo mais desgastante. E embora desta vez nos sentíssemos super bem, preferimos não arriscar e ir aumentando os km's mais gradualmente para evitar lesões ou um desgaste físico muito grande.
Após a Maratona do Porto fomos correr pela primeira vez na quarta-feira. Foram apenas uns 4 km, foi mesmo só para rolarmos, mas sentimo-nos bem que é o que é preciso :)
Na sexta fomos novamente rolar mais um pouco durante 5 km e no domingo fomos fazer uma visita à Nazaré juntamente com o amigo João.

Os 3 elementos dos 4 ao km presentes na Volta à Nazaré.
O Eberhard foi à Meia da Nazaré.
E assim éramos 4 dos 4 ao km.

A partida foi dada pela Rosa Mota, só por isso já vale a pena a participação nesta corrida. Começámos nas calmas mas a um bom ritmo e ao longo da corrida fomos acelerando mais, mas sem grandes abusos. A Volta à Nazaré tem algum sobe e desce mas nada que não se faça. E tenho um segredo a contar-vos...mas shiuuuu...não contem a ninguém....a Volta à Nazaré não é uma volta....SÃO DUAS!!! Mas não contem a ninguém...está bem? ;)

Foram 7 km e algumas centenas de metros que serviram como mais um treino de recuperação.

Foi um dia muito bem passado na Nazaré.


Com os nossos coletes de Finishers do Ultra Trail Serra d'Arga :)
Que orgulho envergar estas vestes =)

Agora já podemos voltar aos treinos mais habituais e amanhã voltamos aos trilhos passado mais de 1 mês! Nem imaginam as saudades que já temos de trilhos. Mas foi por uma boa causa :)
Esperam-nos 30 km de dureza e diversão por terras de Ferreira do Zêzere ;)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Maratona do Porto, e já lá vão três!

Das três maratonas que fiz esta foi aquela que tive mais receio pré-prova.
Receios que se revelariam infundados pois esta maratona viria a ser a que menos me custou fazer.

Isto de correr ora em estrada ora em trilhos é espectacular, pois adoro ambas as coisas. Mas se queremos fazer uma ultra em trilhos e uma maratona em estrada no espaço de 1 mês...a coisa não será fácil. Não temos assim tanta experiência como isso e dividir um plano de treinos para que nem os trilhos nem a estrada fiquem prejudicados não foi nada fácil. E no fim, acho que acabámos por prejudicar ambas as coisas. MAS, o que interessa é que conseguimos concluir ambas as aventuras a que nos propusemos :)

Depois de Arga, tivemos obrigatoriamente que nos dedicar à estrada (e é se queres fazer uma maratona rapariga!), Moita, Água e Almeirim fizeram-se mas mesmo os 21 km não são, de todo!!!, equivalentes a uma maratona. Por estas razões, entre outras, não me sentia propriamente optimista. Ah mas sabia que havia de terminar, a correr, a andar ou a rastejar! Já o Vitor é sempre um optimista nestas coisas. Ah e tal 4h30....hum hum...

E assim chegou o dia 1 de Novembro. Juntámo-nos ao João, à Mafalda e ao Ricky e fizemos uma viagem tranquila até ao Porto. Tranquila é como quem diz, porque houve duas pessoas (não vou dizer nomes...) que não se calavam...cada vez que viam uma matrícula era assim:

  • MP - Maratona do Porto
  • VM - Vitor Maratonista
  • JM - João Maratonista  (ups...disse os nomes...)
  • 42 - 42 km da maratona
  • 16-26-... - 16+26=42!
  • FP - Felizes no Porto
  • etc, etc, etc durante 300 km
Chegados a esta bela cidade fomos logo levantar os nossos dorsais. Muita gente mas o espaço era bastante grande. Já com o material todo em nossa posse fomos à Pasta Party. Havia alguma fila mas estava a andar bem. O almoço era precisamente aquilo que um maratonista precisa no dia anterior....adivinhem lá...vá vocês conseguem....massa!!!! Não foi nada fácil para conseguirem adivinhar, confessem lá! ;)
O almoço de esparguete à bolonhesa estava bastante bom e até tivemos direito a queijo ralado mhan mhan mhan. Bebidas e sobremesa também estavam incluídos. Muito bom!

Com os nossos dorsais.
Ai minha mãe que isto é mesmo a sério!!!!
Mhan mhanm mhan

Depois de almoço fomos instalar-nos e recebo um telefonema do meu pai. Conversa para aqui, conversa para li e de repente "Então quando é que nos podemos encontrar para irmos beber um café?..." Hein? Quê? E depois desata-se a rir, eu começo a rir-me e percebo que o meu pai foi até ao Porto para me ver! Ele queria fazer-me a surpresa e aparecer a meio da maratona para me apoiar mas com medo de não me ver, acabou por me ligar para combinarmos melhor os sítios para ele me ver e apoiar. Foi uma surpresa muito boa! E foi melhor assim, se eu não soubesse que ele estava no Porto e de repente me aparecesse à frente em plena maratona, eu ainda pensava que estava com alucinações.

Fomos então todos beber um café com o meu pai e dar uma voltinha pela bela cidade.
Pelo caminho encontrámos a Inês e o Tiago Rodrigues. O mundo é mesmo pequeno!

Depois despedi-me do meu pai, já sabendo os sítios onde ele estaria no percurso da maratona. Assim tinha mais um incentivo para correr :)

Chegada a noite fomos jantar com o amigo Carlos Cardoso, tendo a oportunidade de conhecer a sua simpática família. O casal Anabela e Paulo estava também presente, E assim juntámo-nos todos à mesa a falar de...imagine-se!!!...corridas :)
No fim tivemos direito a um belo texto do Jorge Branco que serviu para nos deixar um pouco emocionados e ainda mais entusiasmados com a corrida do dia seguinte. Obrigada Jorge :)
O jantar foi muito bom. Obrigada à família do Carlos pela hospitalidade.

E assim acabou um dia em cheio. Estava na hora de ir para a caminha descansar (dentro dos possíveis),  ao que parece no dia seguinte o dia ia ser ainda mais em cheio ;)

5h30 da manhã acordamos, vestimos o equipamento, calçamos as sapatilhas (há que falar à Norte...) e tomamos o pequeno-almoço. Penso que desta vez serei eu a mais nervosa à mesa. Sei que não treinámos o suficiente para uma maratona de estrada. Ainda por cima durante a viagem tive algumas dores no gémeo esquerdo. Ai que isto não está nada bem. Ai ca nervos. Ai ca medo. Meto-me em cada uma!!!

Logística complicada, deixar Mafalda e Ricky na partida, seguirmos os três para a chegada para lá deixarmos o carro e aí apanharmos o autocarro para a partida. Ufa, já estou cansada e ainda nem comecei a correr. Estou um pouco nervosa e stressada, mas tenho a certeza que não se notou nada...
Chegamos ao local da partida, até aqui organização impecável. Encontramo-nos com a Mafalda e o Ricky, revemos amigos das corridas e é num desses momentos em que estamos a conversar com o Joaquim Costa e com a Natércia que reparo, um pássaro deixou-me um presente no casaco. Todos dizem que é sorte. Eu cá não acho um bom pronúncio, mas tudo bem passarito obrigada :)
Fila para as casas de banho, vou duas vezes, uma vez no Pavilhão Rosa Mota onde o wc estava sem luz e as mulheres estavam todas a fazer xixi à luz dos telemóveis. Muito divertido!

Os 4 ao km presentes com os amigos Nuno e Sandra da Açoreana.


Fomos então aquecer um pouco. Ai que eu vou correr outra vez uma maratona. Mas porque é que estou sempre a meter-me nisto? Vamos então para o corredor da partida. Agora estou mesmo nervosa, ato e desato os atacadores umas três vezes, o Vitor acalma-me. Começa a dar a música da partida, agora fico um pouco emocionada. Vêm-me as lágrimas aos olhos mas não as deixo cair.
E de repente está na hora, a aventura começou. Boa sorte a todos! Vamos lá fazer isto!!!

Ah pois corro!

COMEÇOU!!!

Muita gente a assistir, o meu pai incluído. Leva um cachecol do Oeiras (nossa terra natal) e segura-o bem alto. O cachecol é vermelho ;)

Começamos logo a subir mas é uma subida curta e quase que nem demos por ela. Sigo com o Vitor e com o João. Passamos junto ao Estádio do Boavista, junto à Casa da Música e a certa altura uma atleta cumprimenta-me, é leitora do blogue. Desejo-lhe uma boa corrida e fico toda animada. Estamos no Porto e há alguém que gosta de ler o meu blogue e que me deseja boa sorte. Obrigada cara leitora e até uma próxima :)
Seguimos os três relativamente bem. A certa altura a Sandra apanha-nos e segue conosco. Chegamos aos 3 km e, sei que isto vai parecer estranho, eu exclamo "Já fizemos 3 km!" (como se 3 km fosse muito....) mas eu não ia a olhar para o meu relógio e pensei que ainda íamos no 2º km. Naquele momento soube que ia conseguir. Tinha acontecido algo semelhante ao João em Sevilha.
Para mim, muitas vezes, os km's que mais custam são os primeiros. Se eu já tinha passado os 3 primeiros e tinha corrido de forma impecável, o pior já tinha passado. Foi aos 3 km que passei de nervosa a optimista. Uma maratona transforma-nos e é mesmo algo mágico.



Seguimos em direcção a Matosinhos, junto à praia e a alguns prédios. Começámos a cruzar-nos com alguns atletas conhecidos. Gostava de ver o amigo Isaac, pois é a sua estreia e não o conseguimos ver na partida.
A certa altura descolamos do João e da Sandra, queremos manter um ritmo ligeiramente abaixo de 6.20 para tentarmos eventualmente bater o recorde do Vitor: 4h29m.
Chegamos a Matosinhos, ao km 10, sei que o meu pai estará algures por ali e lá o vejo. É bom ter o apoio dele tão longe de casa. Pouco depois cruzamo-nos com o Isaac, vai muito bem. Ficamos contentes por ele, é uma pessoa extremamente simpática e merece tudo de bom.

O meu pai a tirar-me uma fotografia e com
o cachecol do Oeiras ao pescoço :)

Aqui em Matosinhos há um retorno e começamos a voltar para trás. O tempo está bom, está fresco e nublado. Não podíamos pedir melhor. Mas o São Pedro tinha guardada uma surpresa para nós nos últimos km's....

Seguimos sempre junto ao mar. A certa altura há a separação da Family Race da Maratona. Já fizemos 15 km e até foi fácil. Neste passinho calmo a coisa faz-se. Vou cada vez mais optimista e feliz. Digamos que vou no meu estado natural, a correr :)




O Vitor também vai bem mas diz que precisa de ir à casa de banho. Há uma ao km 20, vais aí. Combinamos que eu continuo a correr pois se paro vai ser pior. Ele depois apanha-me mais à frente. Sigo sozinha pela primeira vez em duas maratonas, é uma sensação estranha não ter o meu homem ao lado. Abrando um pouco a passada porque senão ele nunca mais me apanha ;). Passo à meia-maratona em 2h12m sem o Vitor. Vou olhando para trás mas não o vejo. Por volta do km 22 ele lá me consegue apanhar e seguimos junto ao rio. Do outro lado do rio vimos um mar de cores. São os atletas mais rápidos que já vão na outra margem, mas os primeiros já há algum tempo que passaram por nós, incluindo o grande Luís Mota.

Entramos na zona da Ribeira. Fico um pouco desiludida pois esperava mais pessoas a apoiarem mas não havia assim tantas e as que havia estavam mais caladas. Ao longo do percurso as pessoas que faziam mais barulho eram estrangeiras. E se realmente achei esta maratona com um percurso 10x melhor que a de Lisboa e com mais apoio que a de Lisboa, também tenho que dizer que não teve nada a ver com Sevilha. Em Sevilha havia muito mais apoio e o grosso do público estava nos km's finais, aqueles que custam mais. Mas pronto, foi só um aparte, porque realmente tinha as expectativas um pouco mais elevadas em relação ao apoio do público.
Antes de entrarmos na Ponto D.Luís tive novamente o apoio do meu pai.

Vista da Ribeira.

E estávamos na outra margem, em Gaia. O piso era em empedrado, péssimo para as pernas. Ia tudo pelo passeio, também o fizemos. Mais uma vez passámos por muitas caras conhecidas, apoiá-mo-nos mutuamente.

Foi mais ou menos por esta altura que começou a dar-me uma dor na nádega esquerda. Não era muito forte mas era o suficiente para massacrar um pouco após 20 e tal km's de corrida. O Vitor dizia que também já não ia a 100&, mas continuámos a correr a um ritmo  de 6 e picos.  Chegámos então ao retorno na Afurada, já não falta tudo! A certa altura olhei para a outra margem e comentei "Meto-me em cada uma!"

Eu não sei o que é que vocês pensam quando correm uma maratona. Normalmente vou feliz e a desfrutar da coisa, mas volta e meia penso que só posso mesmo ser doida para me meter numa coisa destas hehehe :)

Já depois do retorno.

E chegamos ao famoso km 30. Já fizemos duas maratonas e nunca demos com o muro, será que à terceira é de vez? Vamos bem mas já não se pode dizer que vamos como no inicio. A coisa já custa um pouco, mas não é muro. Onde é que o tal anda? Começo a achar que é um mito...



Novamente na Ponte D.Luís, novamente vejo o meu pai. Agora só o volto a ver na meta. Foi um apoio imprescindível, principalmente por eu saber que ele estaria lá. Foi uma dose extra de energia, correr até tal sítio por sabermos que temos lá alguém à nossa espera.
Os km's foram passando, passámos novamente na Alfândega onde a mesma banda animada continuava a tocar. Abanei um pouco o corpo.

Nesta altura a dor na minha nádega já era forte e até me fazia coxear ligeiramente. E o que mais me estava a irritar é que eu sentia-me super bem, sem mais dores nenhumas. Com mais de 30 km ia impecável das pernas! Nunca me senti tão bem numa maratona e, no entanto, aquela dor na nádega não estava a ajudar nada.

31,32,33,34,35 e sempre a corrermos. Até este dia nunca tinha corrido tantos km's seguidos. Isto porque, como sabem, das duas maratonas que fiz caminhei sempre a certa altura. Em Lisboa foi pelo km 31, na de Sevilha até foi antes, ao 20 e tal. Mas nesta já íamos com 35 km e sempre a correr. Muito bom! Mas foi ao km 35 que não deu mais. O Vitor não ia muito bem e só o percebi quando foi ele que quis andar. Eu tinha aquela dor no rabiosque (qual nádega qual quê!) e receei se começasse a caminhar ainda fosse pior, por isso disse-lhe que ia continuar a correr devagarinho. Ele já me apanharia pensei eu. Mas não. Eu ia correndo lentamente, olhava para trás e ele continuava a caminhar. Percebi que ele não ia bem. Somos um. Comecei a caminhar também para esperar por ele e animá-lo.

Paciência, não íamos bater recordes nem fazer grandes tempos, mas que interessa isso? O importante é continuarmos em frente até à meta. Completarmos a nossa terceira maratona. E disso não tinha dúvidas que éramos capazes. Estabeleci pequenas metas e dizia "voltamos a correr quando passarmos ao pé daquele poste", "recomeçamos naquele sinal", "retomamos junto ao semáforo". E assim fomos indo ora correndo ora caminhando. A nossa figura devia ser linda...Sempre que eu caminhava ia a coxear duma forma algo pronunciada. Ca figurinha! Maratonista sofre....mas preservera... :)))

De repente começou a trovejar. Tudo bem, foi só uma vez....Ah mais um...Ah mais outro...E a certa altura perdemos a conta à quantidade de trovões e relâmpagos. Estava cada vez mais próxima e confesso que assustou um pouco. Quando corremos vamos vulneráveis e ir a ouvir aquele festival não foi propriamente reconfortante. Trovoada tudo bem...desde que não começasse a chover...Mas então algures pelo km 38 ou 39 começou a cair uma carga de água amigos!!! Mas uma senhora carga de água!
Um atleta disse "Será isto castigo ou benção?" :)
Eu respondi que não sabia.
Realmente parecia castigo mas eu acho que foi uma benção. Ao menos enquanto chovia, estávamos mais distraídos com a chuva do que com o cansaço ou as dores. Penso que posso dizer que estes últimos km's até passaram depressa e num instante estávamos a entrar na longa recta que ia dar à meta. O Vitor ia pior que eu, penso que o problema foi falta de descanso. Ele descansou mal nos dias anteriores à prova e isso reflectiu-se, mesmo assim foi um herói, o meu herói :)
Para o animar tive que ir dizendo. Depois daquele pórtico lá ao fundo está a meta. É só mais 1 km, são só mais 500 m, são só mais 200 m. Porque percebi que estava-lhe a custar. Mas estamos nisto juntos e se noutras provas ele tem esperado por mim (que geralmente sou sempre mais lenta) e dado-me apoio, desta vez foi a minha vez de o apoiar.

Eu devia ir a pensar:
"Mas ca ganda carga d'água!!!" :)
Encharcados? Nós?
É impressão vossa...

E assim, juntos, chegámos à curva que dava para a meta. Chovia a potes. De um lado os amigos Sandra e Nuno a gritarem, o amigo Isaac a sorrir e já maratonista! Do outro lado os amigos Anabela e Paulo e a nossa Mafalda. Sorri, agradeci, demos as mãos e demos os últimos passos até à meta da nossa terceira maratona. E já está!!!

A agradecer aos amigos Anabela e Paulo.
No outro lado está o Isaac a gritar por nós.
A metros da meta.
Bora lá Vitor!
Vamos acabar isto!!!

Conseguimos! E já vão três!
Uma maratona é um turbilhão de sentimentos para os quais não há palavras. É preciso sentir.
Tenho tantos sonhos, quero fazer distâncias tão maiores que 42 km, mas penso que uma maratona será sempre uma maratona. É algo mágico e único. Já fiz três e todas foram diferentes. Mas em todas o sentimento final foi um: uma enorme satisfação, uma enorme alegria, um enorme orgulho.

Completámos a nossa terceira maratona em 4h51m36s. Não foi o nosso melhor tempo mas who cares?

Depois de cortarmos a meta fomos receber a nossa bonita camisola de finisher, assim como a bonita medalha. O melhor de tudo foi o vinho do Porto ;)

Entretanto fomos ter com os amigos e esperar pela chegada do João.
E lá vinha ele! Cansado mas feliz. Até teve direito à companhia da Aurora Cunha nos metros finais.
Mas de repente olhamos para o outro lado e vemos toda a gente de roda de alguém que estava no chão. Era a Mafalda. Pregou-nos cá um susto. Paramédicos de roda dela, Aurora Cunha super prestável e despachada. Mas felizmente foi só um susto, a Mafalda acabou por ficar bem e nós mais aliviados do susto que ela nos pregou. Entretanto também chegou o meu pai, tirámos algumas fotos, falámos um pouco e quando o João chegou ao pé de nós, fizemos as despedidas dos amigos que esperaram pela nossa chegada e do meu pai.

Obrigada a todos!

Era hora do merecido descanso. Fomos até ao hotel tomar banho, o que para quem acabou de correr uma maratona pode ser uma tarefa monumental :)
Depois foi hora de encher o bandulho :)
E depois descanso.

Sessão fotográfica dos medalhados.
O descanso dos guerreiros :)

MAS....

A nossa aventura não acabou aqui. Às 23h45 estava a tocar o despertador (sim!!!), pois eu e o Vitor queríamos inscrever-nos para os  Trilhos dos Abutres e nos anos anteriores parece que a coisa esgotou rapidamente. Este ano as inscrições abriam à meia-noite de dia 3. Se queríamos ir tínhamos que fazer este sacrifício. Foi tal a concorrência que o site das inscrições bloqueou e ninguém conseguia fazer inscrições. Amigos, nós só queríamos estar na caminha a descansar depois de 42 km mas não...estávamos ali a desesperar porque, como nós, haviam centenas de pessoas doidas a quererem correr no meio dos montes para os lados de Miranda do Corvo. Ai ao que uma pessoa se sujeita!!!! =) Passada 1h30 (sim!!!!) finalmente conseguimos ficar os dois inscritos. Oh finalmente o descanso dos guerreiros!

No dia seguinte ainda houve tempo para darmos uma volta pela cidade e ir à Torre dos Clérigos. Subir e depois descer quase 200 degraus? Bora lá!!! :) E olhem que até se fez bem.

No cimo da Torre dos Clérigos.

Foi, de longe, a maratona que menos me custou fazer. Se não fosse a dor na nádega penso que teria conseguido completar a prova sem nunca caminhar.  Dor esta que passou assim que cheguei à meta sendo substituída por outra que também acabou por passar.
Nos dias seguintes senti-me bem e praticamente sem dores. E o Vitor também. Nunca recuperámos tão bem duma maratona. Afinal isto não custa nada.... ;)

Foi uma excelente maratona, bem organizada, bons abastecimentos, animação com várias bandas e um percurso variado e bem bonito quase sempre junto ao rio ou ao mar. Claramente um percurso 10x melhor que o de Lisboa. Mas não tem comparação com Sevilha. Sevilha tinha muito mais gente a apoiar, muito mais vida, são espanhóis e não é preciso dizer mais nada. O povo português ainda tem muito que aprender com os estrangeiros no que diz respeito ao apoio numa corrida.

E foi mais um "livro" :)
Espero que tenham gostado de ler.

Obrigada a todos pela força que deram aqui no blogue.

Agradecimentos especiais ao meu pai que foi de propósito ao Porto de comboio só para me ver e apoiar. E que acabou por quase fazer uma maratona, de um lado para o outro :)
Obrigada pai :)

Obrigada aos amigos que nos apoiaram durante a prova e obrigada aos amigos que estavam lá na meta a gritar por nós: Mafalda Lima, Ricardo Lima, Anabela e Paulo, Sandra e Nuno e o grande maratonista Isaac.

Obrigada ao Carlos Cardoso e à sua maravilhosa família por nos terem recebido tão bem.

Ah e já me esquecia de agradecer a uma pessoa, não que esta pessoa seja muito importante...mas parece mal não lhe agradecer... ;) ...chama-se Vitor Gonçalves...não sei se já ouviram falar...e parece que tem este blogue. E estão-me aqui a dizer que namora comigo ;)
Obrigada por tudo! Foi a nossa segunda maratona juntos! Muito feliz por te ter ao meu lado!

Agora venham os 50 km dos Trilhos dos Abutres em Janeiro!!!