terça-feira, 30 de agosto de 2016

Trail Moinhos Saloios, o regresso aos trilhos

03.07.2016

Quase 2 meses após o UTSM regressámos aos trilhos. Precisávamos deste tempo para ter saudades dos trilhos. Este trail acabou por marcar uma nova fase nos trilhos, a fase pós-UTSM...queríamos pôr para trás aquele momento final e nada como começar de forma simbólica com uns novos ténis. Os outros já estavam bastante gastos de qualquer forma e eu já tinha dito ao Vitor que depois daquele final tão amargo não queria voltar a correr com aqueles ténis.
A escolha recaiu novamente nuns LaSportiva, quer para mim quer para ele. Na loja um modelo mais antigo estava em promoção, para comprar o modelo mais recente tinha que desembolsar bem mais! Era mais colorido e mais bonito? Era. Mas no trail pouco interessam essas coisas, de qualquer forma vão acabar todos cagados no final de qualquer prova! Por isso aqui estão eles, são cinzentos com umas zonas a azul claro. Servem o propósito! Já o Vitor trocou o modelo vermelho pelo preto e amarelo.
E o Trail Moinhos Saloios foi uma excelente prova de estreia dos nossos modelitos :)




Estávamos em Julho, num dia onde os termómetros chegaram aos 35ºC.
A partida foi dada num estádio na Venda do Pinheiro.


Começámos logo a subir em alcatrão para depois embalarmos na descida e entrarmos na zona de trilhos. Não seria uma prova rápida, tinha algum sobe e desce e estava imenso calor, mas até nos safámos bem e sentimo-nos bem durante toda a prova. Foi um excelente regresso aos trilhos, senti-me feliz. Sentimo-nos felizes =)







A poucos km's de Lisboa estamos mesmo no campo. 
Encontro imediato com um rebanho:



Já tínhamos visto subidas com todo o género de nomes, mas subida do multibanco? A explicação está no facto desta subida ser à saída de uma povoação e na rua da subida...exactamente...haver um multibanco =P


Oh que bom! Tudo o que eu queria...subir!







Isa sempre a apreciar a paisagem.


Completámos os 25 km em 4h27m e no final tivemos direito a isto:

Mhan mhan mhan
Mhan mhan mhan

Como foi bom o regresso aos trails :)
Também não foi inocente. Já antes do UTSM estávamos inscritos para o UTRP. Sim, a infernal Rocha da Pena! E portanto este também foi um treino de preparação para a Rocha da Pena. Até à Rocha da Pena posso já adiantar que fizemos mais um trail e alguns treinos longos de preparação.

Boas corridas!

domingo, 28 de agosto de 2016

Clássica do Atletismo Cabo Espichel-Cotovia, 15 km com muito calor

19.06.2016

Andava já à algum tempo à procura de uma prova com 15 km para tentar bater o meu recorde a esta distância. É o meu recorde mais antigo. Praticamente desde que comecei a correr que se mantém o mesmo. Também é verdade que tenho quase tantas maratonas como provas de 15 km, ou seja, são raras quando comparadas com provas de 10 km ou com meias.

Portanto, havia uma prova de 15 km entre o Cabo Espichel e a Cotovia. Era de aproveitar!
Não contávamos era com tanto calor...

Chegados à Cotovia no dia da prova fomos logo levantar os dorsais. Esta é daquelas provas mais "familiares". Gosto deste género de provas.
Depois apanhámos uns autocarros que nos levaram até à partida no Cabo Espichel.





Ainda era cedo e o nosso autocarro foi o 1º a chegar ao Cabo Espichel. Aproveitámos para dar uma volta e ver as belas vistas. Entretanto vimos algumas caras conhecidas e encontrámos o Catita que nos disse que a prova ainda tinha umas subidas jeitosas, principalmente nos 1ºs km's.
Se antes tínhamos pensado em tentar bater o meu recorde, agora com o calor que se fazia sentir e sabendo que a prova não era nada plana, tentámos pôr essa ideia de lado mas mesmo assim eu queria tentar. Tentar dar o nosso melhor e logo se via...

Está bem está...depois de dada a partida começámos logo ligeiramente a subir... e continuámos com umas quantas subidas...não eram subidas a pique mas era praticamente sempre ligeiramente a subir, o suficiente para se perder pedalada. Estava muito calor, precisava de chegar ao abastecimento rápido!
Mas chegados à zona do abastecimento, a desilusão! Os voluntários já arrumavam as coisas e informaram-nos que a água tinha acabado. Ficámos chateados e um pouco aflitos. Estava mesmo muito calor! Sentia a garganta e os lábios bastante secos, procurei em volta por garrafas que ainda pudessem ter água, mas estavam todas vazias.
Entretanto o Catita apanhou-nos e acabou por seguir conosco até à meta. 

Só por volta do km 8 ou 9 é que o Vitor teve uma ideia (graças aos céus que tenho um homem desenrascado!), desviou-se um pouco da estrada e perguntou a um senhor que estava no quintal de uma casa se ele tinha água. A família, vendo-nos tão aflitos, foi logo buscar uma mangueira onde aproveitámos também para nos refrescar e ainda nos deram uma garrafa de água! Excelente! Agradecemos imenso aos senhores e seguimos caminho já mais hidratados. 
Um pouco à frente aparece um carro em sentido contrário e com uma senhora a distribuir água pelos atletas. Calculamos que fosse da organização, provavelmente no abastecimento informaram que tinham ficado sem águas e vieram em nosso auxílio. Mesmo assim é algo que nunca pode falhar! Água num dia de tanto calor não pode mesmo falhar!

Seguimos caminho com o amigo Catita, o ritmo era normal, à muito que tínhamos esquecido recordes.
Felizmente ainda tivemos direito a um abastecimento antes da meta e depois foi aguentar até ao fim só para terminar.

Quase a chegar à meta liderados pelo bem disposto Catita.

Os 3 companheiros a cortar a meta.

Acabámos com 1h33m50s, longe...bem longe do recorde. Lá vou ter que esperar para aí pelo ano que vem para bater o recorde dos 15 km.

No final tivemos direito a sumo e pão com chouriço =)

Gostámos desta prova, o percurso é bonito e variado (muito sobe e desce), o problema foi mesmo as águas. É pena que tenha falhado pois mancha um pouco a prova. Seja como for, acredito que corrijam e que para o ano não volte a acontecer. 
Esta prova merece um regresso.

p.s. Quatro relatos já estão, faltam outros quatro =)

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Corrida de Belém + Corrida do Oriente, uma bem dura, a outra com quase recorde

Corrida de Belém 29.05.2016

Duas semanas depois do UTSM fomos até ao Estádio do Restelo para participar na bem dura Corrida de Belém.
Foi bom rever os companheiros de corrida e sentir o verdadeiro espírito da corrida, a amizade e camaradagem. 
Vi amigos a correrem felizes, vi pessoas a terminarem de braços no ar e até um pedido de casamento vi. 

Não estávamos à espera mas também tivemos amigos e conhecidos a vir ter conosco a dar-nos força e os parabéns pelo UTSM. Recordo com particular emoção como a Mónica e o Quarenta, da equipa "irmã" Açoreana, nos transmitiram carinho, em particular a Mónica que foi uma querida e me deu um sentido abraço. Assim como o amigo Sequeira, da revista Atletismo, nos veio também dar um forte abraço. Obrigada amigos.


Os 4 ao km presentes: nós, João, Joana e Eberhard.
A aquecer na pista.

É interessante partir de uma pista num estádio, e neste caso no estádio onde o meu pai chegou a praticar atletismo quando era mais jovem. Nem de propósito, estamos nós a alinhar para a partida quando vejo o meu pai nas bancadas a acenar :)

É dada a partida e aí vamos nós nas calmas. Esta era para tentar desfrutar, sabíamos ter algum sobe e desce e era a primeira prova pós São Mamede.

Logo à saída do estádio.
Foto tirada pelo meu pai.

Uma coisa que gostei de ver foi um atleta com uma sweat do MIUT (Madeira Island Ultra Trail) a bater palmas e a apoiar todos os atletas. É bonito ver que ainda há malta do trail (e neste caso um trail da "pesada") que não sucumbiu à moda do "o trail é que é bom e a estrada é uma m****". Todos praticamos desporto e ambas as modalidades têm prós e contras, o importante é que sejamos felizes a fazer aquilo que gostamos.

Não tardou muito a estarmos a fazer a primeira subida bem puxadita. Mas tudo o que sobe desce, por isso foi acelerar por ali abaixo até ao Mosteiro dos Jerónimos. Nesta descida havia um radar que dizia a velocidade dos carros e foi super engraçado ver a maquineta a dar a velocidade dos atletas que neste caso variava entre os 10-11 km/h :)

Depois era zona plana, sempre junto ao rio, o retorno segundo me recordo já foi feito depois do Museu da Electricidade e foi precisamente no retorno que numa daquelas passagens aéreas para peões vimos várias pessoas a segurar num grande pano com um pedido de casamento dirigido a alguma atleta que ainda vinha para trás de nós.

A passar junto ao meu pai com o Padrão dos Descobrimentos atrás.

Depois de passarmos junto ao CCB e ao Planetário tínhamos uma surpresa. Provavelmente a pior subida que já fizemos em prova de estrada. Aliás, não me consigo lembrar de ter feito uma prova de 10 km tão dura como esta. Primeiro a subida começava pouco inclinada, era apenas longa, bem longa. Mas no final da subida aquilo inclinava de tal maneira que uns quantos atletas iam a andar, nós lá nos aguentámos pois já íamos a pensar apenas em terminar abaixo da hora mas foi bem duro.
Ao meu lado uma senhora de aspecto bastante respeitável soltou um grande palavrão :)

Após a subida já só faltavam umas centenas de metros, percorrer a pista do estádio e chegar à meta. Foram 59m15s, o que consideramos bom tendo em conta a dureza desta corrida.

Na semana seguinte havia mais...

Corrida do Oriente 05.06.2016

Esta foi a 1ª corrida de 10 km que fiz quando comecei a correr, por isso será sempre especial para mim e sempre que possa irei voltar. 
Este ano queria fazer um bom tempo mas não acordei nos meus dias, sentia-me um pouco mal disposta e ainda por cima já chegámos à prova bastante em cima da partida.
Mas depois começámos a correr...com o Vitor a puxar e eu a sentir-me progressivamente melhor fomos acelerando e melhorando ao longo da corrida.



Sentia as pernas bem soltas e a quererem mais e comecei a pensar que se calhar devia ter-me mentalizado desde inicio para tentar bater o meu recorde. Assim, já fui tarde. Mesmo assim, e visto que o objectivo inicial era apenas dar o nosso melhor e fazer um bom tempo, continuámos a puxar.
Já nas últimas centenas de metros ainda tive alguma esperança mas já não dava. O recorde ficou ali tão perto mas por um lado ainda bem que não o batemos pois a prova tinha uns 100/200 m a menos.
Tempo de chip: 53m33s. O meu 3º melhor tempo de sempre num total de 29 provas com 10 km! Nada mau :)





Foi mais uma manhã bem passada neste maravilhoso mundo das corridas.

E assim no espaço de uns dias despachei a escrita de 2 artigos e 3 provas. Já "só" faltam mais 5 provas para ter isto em dia... =P

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ultra Trail São Mamede, 97,5 km maravilhosos e inesquecíveis

Com mais de 3 meses de atraso (!!!!!!!) aqui vai o relato dessa longa e emocionante prova, o Ultra Trail de São Mamede. 
Todos já sabem como acabou, mas não sabem tudo o que se passou pelo meio. E como eu costumo dizer, a meta é apenas o culminar de tudo, a aventura que se vive até lá chegarmos, as emoções sentidas, é para isto que corremos. Felizmente foram muitos momentos marcantes e lindos vividos durante esta prova e é a esses que me quero agarrar ao recordar-me daquele dia.

Nos últimos tempos praticamente só escrevo sobre as provas que fazemos, mas como é natural, as provas são só a ponta do icebergue, para além das provas houve treinos longos e treinos ao longo da semana, para além de algum ginásio e para além da alimentação.
Uma das coisas com que tive muito cuidado, principalmente nas duas semanas antes da prova foi comer muitos kiwis, mel e alho. Facilmente me constipo ou apanho gripes, por isso não podia de forma alguma adoecer nos dias antes da prova. O kiwi tem muita vitamina C e ajuda a prevenir constipações, o mel foi para cuidar da minha garganta e o alho é dos alimentos mais poderosos para fortalecer o sistema imunitário. O que sei é que felizmente consegui chegar ao dia da prova impecável =)

Como esta prova era "a" prova, nada podia falhar, daí darmos tanta atenção a tantos pormenores, inclusive tirámos dois dias de férias pré-prova. A quinta-feira foi para prepararmos tudo o que iríamos necessitar para a prova e a sexta foi para fazermos a viagem nas calmas.

Sexta-feira, 13 de Maio

Sexta-feira 13...gosto...só poderia ser um bom pronúncio. A viagem fez-se de forma tranquila, almoçámos em Portalegre, pizza, muita pizza =) e de seguida fomos levantar os dorsais.
Algum nervosismo e ansiedade. Os doidos estavam a levantar dorsais para uma prova com 100 km!!!
E eu era a mulher mais nova inscrita nos 100 km!
Depois de levantados os dorsais, fomos gastar dinheiro, coisa que mais tarde muito nos arrependemos...Ele foi comprar um pólo para a Isa, uma sweat-shirt para o Vitor, bonés, imans para o frigorífico. Esta era a "minha" prova e era "a" prova para ambos, eu queria ter recordações deste dia...

Depois de levantados os dorsais, fomos até ao nosso alojamento, alojamento esse que é onde ficamos sempre que vamos a Portalegre.
Uma coisa que o senhor director da prova não quer saber mas esta é uma realidade, somos apenas dois mas tal como os restantes atletas ajudamos a promover o turismo na zona. Foram refeições na sexta, foram duas noites de alojamento para nós e para o João e para a Mafalda. E depois há o blogue, com um blogue promovemos uma prova. E depois daquele triste desfecho, chegaram-nos alguns relatos de pessoas que estavam a pensar ir um dia a esta prova e que a partir de agora já não o tencionam fazer. 
Tudo poderia ter sido diferente se, no mínimo, tivéssemos sido tratados de forma mais correcta pelo sr. director desta prova. Mas prosseguindo.





Da parte da tarde aproveitámos para fazer uma sesta. Não conseguimos dormir muito mas sempre deu para estarmos deitados um pouco.
Um pouco antes da hora do jantar começámos a preparar tudo para a prova, equipamento e comida. Nada podia falhar!
Depois de tudo arrumado fomos jantar. O João e a Mafalda já estavam a chegar e foram ter conosco ao restaurante onde jantámos comida típica alentejana + queijo + azeitonas...Epá, íamos correr 100 km...precisávamos de gasolina... =P

Agora, quero deixar aqui várias palavras de agradecimento ao João e à Mafalda.
Desde o momento em que souberam que iríamos aos 100 km do UTSM que se disponibilizaram para nos acompanhar e apoiar nos vários PAC's. E não houve melhor equipa de apoio naquele dia. Eles estiveram em todos os PAC's a que chegámos de dia e ainda estiveram no 9, a que já chegámos de noite! Em todos os PAC's tinham comidinha para nos dar, palavras para nos apoiar e fotografias para nos tirar, a nós e a tantos outros atletas! Foram mesmo impecáveis e quaisquer palavras que possamos dizer não chegam para agradecer este gesto. Obrigada amigos.

Depois do jantar, fomos equipar-nos e buscar as coisas ao hotel. Alguns telefonemas, em especial do pai e da mãe e também algumas mensagens de amigos a darem força. Obrigada a todos :)

Estava na hora de irmos para a partida no estádio de Assentos. O ambiente era de festa, alegria e ansiedade. Este ano em vez da prova de 42 km que fizemos nos dois anos anteriores, havia uma de 60 que partia com os 100 km e que terminava em Marvão. Por um lado foi bom, pois assim fomos mais acompanhados durante várias dezenas de km's.

Estes eram os vários PAC's/abastecimentos e respectivos locais e horários onde poderíamos ser barrados:

PAC 0 - Estádio dos Assentos - Portalegre, Km 0 e 100
PAC 1 - Reguengo - Altas Quintas, Km 10
PAC 2 - Alegrete, Km 18
PAC 3 - São Mamede, Km 30 (CORTE com 7h de prova)
PAC 4 – São Julião, Km 40
PAC 5 - Porto da Espada, Km 50
PAC 6 - Marvão, Km 60 (CORTE com 14h de prova)
PAC 7 - Castelo de Vide, Km 75 
PAC 8 - Carreiras, Km 82
PAC 9 - Convento da Provença, Km 89 (CORTE com 22h30 de prova)
PAC 10 - Ermida da Penha - Portalegre, Km 95

Já no estádio deu para absorver bem o ambiente de festa vivido e tirar algumas fotos e fazer alguns vídeos.

Sorrisos nervosos pré-prova.

Com o amigo João antes da prova.

Vejam bem o ambiente espectacular vivido antes da prova, com direito a concerto e tudo!


Felizes por estarmos prestes a concretizar um sonho,
participar nos 100 km do UTSM.
A nossa equipa de apoio =)



Sábado, 14 de Maio

E então era meia-noite! Foi dada a partida! MEDOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!
Independentemente de quem desista ou seja barrado, penso que somos todos uns grandes doidos por estarmos à meia-noite a partir para uma corrida com 100 km pela Serra de São Mamede. DOIDOS! Não há outra palavra...ou até há....loucos, malucos, chanfrados... =P

A emoção tomou conta de mim e fiquei com as lágrimas bem à beira dos olhos e até me arrepiei ao ouvir a música enquanto partíamos rumo à maior aventura das nossas vidas.



Tivemos sorte com o tempo, não chovia, o céu até estava estrelado e a temperatura estava amena. Mesmo assim íamos bem agasalhados e com impermeáveis.
Logo nos primeiros 2 ou 3 km começa o espectáculo. Muhhh, muhhhh =)



Foi fantástico ir a correr, ainda a poucos km's de Portalegre e já irmos no campo a ouvir as vacas. Para elas deve ter sido assustador ver uma data de gente a correr com luzinhas na cabeça e para nós foi engraçado pois mal as víamos mas víamos os olhos delas e bem que as ouvíamos!
Os primeiros km's decorreram de forma super pacífica, eram bastante corríveis. Cedo sujámos os pés pois havia alguma lama, fruto da chuva dos dias anteriores. 
Também pensámos que nos iria dar o sono mas nada. Fomos sempre bem despertos quer durante a noite, quer durante todo o dia. Só dei o meu primeiro bocejo e senti que o corpo estava a dar sinais de precisar de dormir, já íamos para aí com uns 90 km de prova, portanto o sono não foi problema para qualquer um de nós.

Íamos a correr felizes e assim que chegámos ao primeiro abastecimento (PAC1, km 10 em Reguengo) aproveitámos para comer qualquer coisa mas não perdemos muito tempo, prosseguindo viagem mais uma vez debaixo do mais maravilhoso céu estrelado do mundo, o do Alentejo =)
Ir a correr ou a caminhar em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede debaixo daquele céu foi maravilhoso e inesquecível. Fiz este pequeno vídeo mas claro que não se vê nada, vale para que eu nunca me esqueça em como ia maravilhada com aquele céu.


As memórias pós 3 meses de prova já não são as mesmas, mas penso que foi algures entre o PAC1 e o PAC2 que de repente nos vimos numa fila de trânsito. E daquelas que não andam! Sai uma pessoa de Lisboa para evitar estas coisas e em plena natureza também dá com isto ;)

Os atletas todos a pensar "Tipo...já andávamos, não?..."

Não percebíamos o que se passava, pois de facto estávamos mesmo parados e quando andava, andava pouco e voltava a parar. Foi um pouco aborrecido pois surgiu logo após uma zona corrível e até íamos com a pica toda. Afinal era apenas um ribeiro onde tínhamos que ter algum cuidado pois tinha bastantes pedras e estava bastante escorregadio, eventualmente após uma paragem de uns 20 minutos lá passámos aquela zona e seguimos caminho. Tenho uma imagem gravada na memória em que vamos a correr em zona de muitas árvores e vamos a sentir-nos tão bem física e psicologicamente. Que sonho tão bonito aquele que estávamos a viver! 
Depois seguiu-se uma descida e depois ligeira subida até ao PAC2 (km 18) no bonito castelo de Alegrete, onde também não perdemos muito tempo.
A partir daqui sabíamos ser mais difícil, pois começavam as subidas e era praticamente sempre a subir até ao PAC 3 (km 29 e primeiro corte com 7h de prova). Íamos com uma boa margem mas isto em trail nunca se sabe, bastam umas quantas subidas brutais e a margem pode ir à vida num instante. Felizmente não foi o caso. Sim, era a subir e algumas subidas eram um pouco mais inclinadas, daquelas que temos de parar uma ou outra vez a meio para recuperar o fôlego. No entanto, eram subidas fazíveis, nada de muito brutal. E então com bastões como eu tinha (meus melhores amigos!!!) a coisa foi mais fácil.
A meio da subida novo momento inesquecível, há uma série de tendas em plena serra e várias pessoas à volta de uma fogueira a darem força aos atletas e a gritarem por todos nós. Muito bom!
Mais à frente, novo gesto, desta vez de dois voluntários da prova que estão a comer batatas fritas de pacote e que ao verem o nosso esforço após uma subida mais puxada, de imediato nos oferecem algumas batatas. Muito obrigada :)

Entretanto estamos quase a chegar ao PAC3, só mais um bocadinho a subir e chegamos. São 5h45, portanto ainda chegámos com 1h15 de avanço :) Enviamos sms ao João a avisar, pois eles estarão no PAC seguinte à nossa espera.
Neste abastecimento já nos detivemos um pouco mais, estava bastante frio nesta altura, de madrugada e no topo da serra. Comemos bem, bebemos e prosseguimos viagem, agora era praticamente sempre a descer até ao PAC4.

Nascer do dia em plena serra.
Momentos incríveis.



Depois de muito descermos, embora fosse descida maioritariamente corrível, chegamos ao PAC4 (km 40 em São Julião) ainda não são 8h da manhã.
Logo avistamos o João e a Mafalda =)
E que bem sabe já com 40 km de prova avistar duas caras amigas.

Chegada ao PAC4
A comer sopa quente no PAC4.

Neste PAC aproveitamos para tirar os impermeáveis pois pôs-se um bonito dia de sol. O João e a Mafalda têm duas mochilas com coisas nossas, entre material e comida e aproveitamos para arrumar algumas coisas.
Gostam de nos ver, gostam das nossas caras, com 40 km vamos bem =) Aliás, estes 40 km quase que nem demos por eles. E só isso já é uma vitória. Há cerca de 4 anos eu nem corria, agora estou a participar numa prova com 100 km, levo 40 km de sobe e desce nas pernas e nem dou por isso. Corremos a nossa 1ª maratona nem há 3 anos e a nossa 1ª ultra nem há 2! Tenho um enorme orgulho em nós neste momento, nesta serra. E principalmente no Vitor, ele vai impecável. Aliás o João e a Mafalda são testemunhas em como o Vitor foi quase sempre como se nada fosse! Nem se notava cansaço, só lhe notei algum cansaço já íamos com cerca de 85 km! Como é possível? Parecia tão fresco! 

Seguimos caminho, próxima paragem será ao km 50, no PAC 5 em Porto da Espada.
Sabemos que agora vamos voltar a subir, desta vez pela Sierra Fria. Começamos logo a subir e pouco depois o meu pai liga-me. "Tens cá uma pontaria, ligas-me quando vou a subir", digo e ele ri-se :)
Ao longo da prova envia-me algumas mensagens e liga-me algumas vezes para me dar apoio, é bom para me distrair. 

Sierra Fria
Sierra Fria
A subir na Sierra Fria

Chegamos aos 45 km com cerca de 9h20m de prova.
Tiramos algumas fotos e faço um pequeno filme, lá em cima do planalto da Sierra Fria a vista é bem bonita. Podemos avistar as planícies e algumas fragas, inclusive a Fraga da Esparoeira, onde existe uma colónia de grifos.







As fragas lá em baixo.




Após alguma descida chegamos ao PAC5 (km 50, Porto da Espada). Vamos a meio e com 10h30m de prova.
Novamente os amigos Mafalda e João aguardam por nós e desta vez têm uns maravilhosos pasteis de frango com eles. Ai que delícia estavam aqueles pasteis, souberam super bem.

A chegar ao PAC5

Este PAC está bem animado. Os voluntários são alegres e os atletas também estão animados e tal como todos os outros PAC's está bem apetrechado :)
Agradecemos e despedimo-nos do João e da Mafalda, agora só nos veremos em Marvão, onde mais uma etapa importante será conquistada, o segundo corte.

O caminho é em frente (e aos esses) até Marvão.

Acho que mais ou menos a partir dos 50 km a coisa já me começa a custar mais. Já não é brincadeira, já são 50 km nas pernas e 10h30m de prova. Com cerca de 11h20m de prova atingimos os 55 km e depois já só vamos chegar a Marvão, aos 60 km já com 13h15m! Vem aí uma autêntica montanha russa e uma data de zigue-zagues irritantes até finalmente conseguirmos conquistar o raio do castelo!


Já se avista o castelo de Marvão...mas para lá chegares vais ter que penar...

Lá está ele outra vez, parece ali tão perto
e no entanto ainda vamos dar uma data de voltas e voltinhas até lá chegarmos.
E agora parece ainda mais perto mas não se deixem enganar...


Pois é, vimo-nos gregos para chegar a Marvão. Sempre adorei Marvão, sempre achei Marvão lindíssimo, mas depois desta prova disse que tão depressa não queria voltar a ver o castelo de Marvão.
O castelo parecia ali tão perto mas o percurso até lá chegarmos foi desesperante. Ora curvávamos para um lado, ora para outro, ora avistávamos o castelo e parecia que finalmente íamos em direcção ao mesmo, ora de repente o percurso virava completamente e ficávamos de costas para o castelo ou sem sequer o avistarmos quando ele ainda à pouco ali estava! Estava-me a passar!!! Entretanto o relógio batia nos 60 km e nada! Onda raio estava o castelo???

Perguntei por Marvão a este bode e ele apontou naquela direcção... Seria?

Para além do bode e das cabrinhas, cheguei a perguntar a uns cavalos mas esses não faziam mesmo a mínima ideia para que lado era Marvão e a quantos km's estávamos do PAC6. Após várias curvas e contra-curvas, sobe e desce e zigue-zagues lá avistámos novamente Marvão, agora mais perto. 
Só um pequeno problema...era sempre a subir e não seria nada fácil. Com 60 km nas pernas e com quase 13h de prova, obviamente que a coisa já custava. Lancei uns quantos palavrões para o ar enquanto subia aquela coisa. Foi bastante desgastante. Só queria chegar lá acima e sentar-me um bocado a descansar. Nunca me passou pela cabeça desistir mas sabia que precisava de descansar e repor energias para prosseguirmos caminho.

Já no final da subida para Marvão.
Cá em cima o João e a Mafalda gritavam por nós.
60 km já cá cantam!
Ufa, vi-me grega para cá chegar!
A diferença de sorrisos é notória.
Vitor - fresco que nem uma alface...como é possível?
Isa - algo cansadita

Chegados a Marvão (PAC 6 aos 60 km que na realidade já eram 61,5 km) com 13h15m de prova, apenas 45 minutos antes do corte mas mesmo assim conseguimos! =)
Hora da sopinha de legumes =)
Sentámos-nos juntamente com outros atletas a comer sopa. O João pôs-nos a par dos vários amigos que haviam enviado mensagens a dar força e a saber da nossa evolução na corrida. Entretanto eu fui à casa de banho e depois foi o Vitor. 



Enquanto estamos ali à espera do Vitor, o João recebe um telefonema e afasta-se de nós, pouco depois regressa e de repente apanho-o a fazer uns gestos para alguém, parecia estar a dizer a alguém para se esconder...Humm...eu estava acordada há muitas horas mas ainda estava desperta o suficiente para perceber que algo se passava e disse ao João que ele estava a tramar alguma. O João tentou disfarçar mas eu já tinha percebido que alguém devia estar ali... e de repente....SURPRESA!!!!!!!!
Aparecem o Nuno, a Sandra e a mãe da Sandra! ESPETÁCULO! Ca grandes malucos! 
Depois ficámos a saber que eles estavam em Constância a passear enquanto falavam com o João a saber pormenores da nossa prova, quando se puseram a pensar e disseram "Mas nós estamos aqui tão perto...vamos aparecer por aí!" 
O "aqui tão perto" é relativo pois ainda estavam a cerca de 100 km de distância, fizeram um desvio do seu caminho só para nos irem apoiar a Marvão! Muito obrigada amigos =)

Nuno, eu e Vitor e Mafalda e João.
Aqui claramente mais animada após algum tempo de repouso
 e após a visita surpresa dos nossos amigos.

Estava na altura de seguir viagem até Castelo de Vide ao km 75. 
Apesar do tempo de descanso e da alegria de ver tanta cara amiga, a partir daqui já custou mais, fomos progressivamente correndo cada vez menos, só nas zonas mais planas ou nalgumas descidas é que lá forçávamos as pernas a correr mais um bocadinho. Mas já não era bem correr, era mais um arrastar.

A sair de Marvão.

A partir daqui havia muita coisa diferente dos anos anteriores, o percurso estava praticamente todo diferente dos 42 km das provas dos anos passados. Gostei menos. O percurso até Castelo de Vide era algo monótono e inclusive até tinha algumas zonas chatas em alcatrão. 
Festejámos quando atingimos os 68 km. Até aqui o nosso recorde de distância percorrida era de 67 km em Sicó, agora estávamos a bater esse recorde a todo o momento. Chegados ao km 70 nova alegria. 70 km! Impressionante! Com 15h45m de prova ainda tinhamos 30 km pela frente mas muito tempo para os fazer. Mas como vos disse o ritmo vinha a abrandar cada vez mais e a partir daqui seria sempre a quebrar, embora mantivéssemos sempre a marcha e sempre determinados a chegar ao fim.
O chato agora é que ia com uma dor no pé. Não sendo uma dor muito forte, era suficiente para incomodar, principalmente a correr. Sabia que chegados a Castelo de Vide tinha que pôr gelo ou algum spray anti-inflamatório ou corria o risco de me ver muito aflita para terminar. E eu não queria desistir, não queríamos desistir. Apesar da brutalidade de ter 70 km nas pernas, queríamos prosseguir e terminar a nossa grande aventura. 

Ao chegarmos a Castelo de Vide, comecei a maldizer novamente um castelo, desta vez o de Vide...
Novamente a subir! Oh não! Não se pode dizer que fosse uma subida brutal. De facto não era, mas era uma subida considerável para quem tinha praticamente 75 km nas pernas! Mais uns palavrões...
Entretanto dentro de Castelo de Vide estivemos ligeiramente perdidos mas lá encontrámos o caminho e a Mafalda que nos informou que o abastecimento era já ali à frente.

Chegados ao PAC7 (km 75 em Castelo de Vide) mal comi. Fui logo direita aos bombeiros pedir qualquer coisa para o meu pé. Já não tinham nada, só mesmo o gelo. Para já teria que servir.

A pôr gelo no pé em Castelo de Vide.

Nós com João, Nuno, Mafalda e Sandra.

Comemos mais um daqueles pasteis de frango que a Mafalda nos tinha comprado e prosseguimos caminho. O gelo tinha aliviado um pouco a minha dor, não estava a 100% mas já dava para aguentar melhor.
Despedimo-nos da Sandra, do Nuno e da mãe da Sandra, pois eles iriam seguir viagem para outras bandas. Foi duma grande amizade, desviarem-se do seu caminho só para nos irem apoiar. Obrigada amigos, já sabem que gostamos muito de vocês e que estamos a torcer por vocês :)

Subida em calçada romana após Castelo de Vide
Castelo de Vide deixada para trás.


Com quase 80 km começámos a descer sempre em calçada romana. Demasiadas pedras, demasiado massacre para o pés. Apesar de Castelo de Vide ser bem bonito, penso que esta mudança em relação aos anos anteriores foi pior. É mais monótono e mais massacrante para os pés. Já íamos estoirados, portanto correr já era praticamente uma miragem, ainda por cima com este piso então é que não apetecia mesmo nada correr. Mas apesar de tudo, o caminho era em frente. Estávamos determinadíssimos!

Chegada a Carreiras (PAC 8, km 82)
Em Carreiras.

Em Carreiras, estavam novamente os amigos João e Mafalda e os voluntários mais simpáticos de todos os PAC's. Malta animada, maioritariamente mulheres, que nos encorajaram.
Sabíamos que o próximo PAC era determinante, era o último corte até à meta, por isso se conseguíssemos passar esse PAC dentro do limite, depois a meta era "certa"!
Prosseguimos caminho, agora desde Carreiras até ao Convento da Provença que estaria ao km 89 (na realidade já apareceu por volta do km 91). O caminho agora já era familiar, já o tínhamos feito nos anos anteriores, só que agora estava a anoitecer e estávamos a tentar percorrer o máximo de caminho possível ainda com luz do dia. Talvez por volta do km 85 tivemos que colocar os frontais, foi também nesta altura que notei um Vitor mais cansado, mas atenção, até aqui o rapaz ia praticamente fresco! 

85 km não são pêra doce. Já há muito que havíamos batido o recorde de distância e de tempo de corrida. Só o facto de chegarmos aos 85 km já era para nós fantástico. Podemos não ser rápidos mas nesta prova mostrámos ambos uma grande determinação. É como vos digo, nem sequer me passou pela cabeça desistir e isso mostra como íamos fortes psicologicamente, o quanto queríamos e merecíamos concluir esta prova.

Já perto do PAC9, dois voluntários, algo impacientes perguntam-nos se o vassoura vem conosco. Respondemos que não. Mostram-se algo aborrecidos, dizem que já lá estão há muitas horas. Se por um lado compreendo perfeitamente que não seja fácil estar muitas horas como voluntário, por outro lado estes voluntários têm que saber ao que vão. Têm que ser compreensivos para com os atletas que estão há horas em movimento! Num esforço tremendo!

Finalmente conseguimos chegar ao PAC9 ( ao km 89 no Convento da Provença)!!!
VITÓRIA! 
Tínhamos conseguido passar todos os PAC's dentro dos tempos limites!!!
Este já foi por pouco, foi uns 20 minutos antes do corte.

Comemos mais qualquer coisa, fui à casa de banho e vimos o João e a Mafalda pela última vez antes da meta. Apesar de verem que íamos cansados (aqui já tínhamos mais de 90 km nas pernas!), também viram a vontade e determinação que tínhamos em chegar ao fim.

Entretanto, enquanto estávamos no abastecimento, fomos apanhados pela ultima atleta e pelo atleta vassoura. Este ia a ouvir musica e os voluntários no abastecimento tiveram que gritar por ele, pois nem nos viu e já ia a sair do abastecimento sem nós. A partir daqui naturalmente já seguimos todos juntos. 
Amigos, já corremos umas quantas vezes com atletas vassoura a acompanhar. E todos eles foram sempre a apoiar-nos e a conversar conosco, este vassoura seguia muitas vezes à nossa frente (relembro, é o atleta vassoura e ainda por cima é de noite e vai de auscultadores nos ouvidos) e raramente falava conosco. Mas pensei que naturalmente também seguiria cansado e só quereria era terminar aquilo rápido. O que sei é que chegados ao local fatídico onde fomos injustamente barrados, ele nunca tomou o nosso partido e mais tarde pelo FB até chegou a dizer que a organização é que tinha razão. 

Os últimos km's da nossa aventura já foram percorridos sempre a caminhar e em conversa com a Maria, a outra atleta que seguia conoso. Confidenciou-nos que este era o grande sonho dela e que depois desta não se voltava a meter em outra, isto era demasiado duro. Concordei com ela, na altura pensei exactamente o mesmo. Íamos terminar mas nem pensar que me voltava a meter noutra!!! (Claro que depois a pessoa começa a pensar em meter-se noutras... ;)....e ainda por cima tendo em conta que não terminámos e não completámos os 100 km...claro que vamos mesmo ter que nos meter noutra... ;)....).

Foram km's sofridos estes últimos, mas passada após passada estávamos mais perto do sonho. Íamos conseguir. Já só faltava mais um abastecimento, o PAC10 ( km 95 na Ermida da Penha). Na realidade o nosso relógio já marcava 97 km quando íamos a descer para a ermida, por isso calculamos que foram 97,5, máximo 98 km percorridos. 

Chegados a este PAC, o último de todos e como se podia ler no regulamento, onde não havia nenhum corte, fomos barrados de forma totalmente injusta e insensível. O sonho tinha terminado. Acho que ficámos todos em choque. Com 24h de prova e quase 98 km percorridos estávamos estoirados mas bem! Nós tínhamos capacidade para terminar aquela porra!!!

O resto já vocês sabem, tentámos de tudo e foram-nos dando sempre desculpas para tudo. Pedimos para falar com o director de prova que entretanto se dirigiu de imediato para o PAC onde nos encontrávamos. Independentemente de achar que tinha ou não razão em nos barrar, no mínimo podia ter tido mais sensibilidade, mas não. Chegado lá mostrou-se altivo e arrogante e comunicou que estava ali presente apenas para dar boleia aos atletas até ao estádio. Tentámos de tudo mas foi mal educado conosco. Agora à distância até penso "ainda bem que não terminámos, aquele gaijo não merecia que o fizéssemos". 
Havemos sim de terminar uma prova com 100 km e mais virão! Mas não será em São Mamede.

Depois de tudo o que já relatámos em artigo anterior, não há muito mais a dizer. Apenas dizer que fomos os 3 transportados de carro até ao estádio por uma gaija que era igualzinha ao director, de nariz empinado nunca nos dirigiu a palavra no caminho até ao estádio e ainda teve a insensibilidade de ligar o rádio com uma música animada.

Chegados ao estádio, o João e a Mafalda nem queriam acreditar. Eu não conseguia falar, sabia que a qualquer momento me ia desmanchar. Assim que eu e o Vitor chegámos ao quarto do hotel desmanchei-me toda a chorar. O Vitor, nestas coisas é muito mais racional que eu, disse-me que eles não mereciam e tinha toda a razão.

No dia seguinte já estava mais animada, embora ainda em choque. Apesar de termos corrido praticamente 100 km, até estávamos relativamente bem. Recebemos algumas chamadas de amigos a darem força. Obrigada a todos, em especial à Anabela e ao Paulo e ao Sequeira.
Fomos almoçar a Estremoz e ainda subimos ao castelo! Dois dias depois já estávamos a fazer uma caminhada e uns dias depois a dar as nossas corridas habituais. Duas semanas depois regressámos às provas e três semanas depois quase que batia o meu recorde pessoal nos 10 km =) 
Portanto, sim, fazer uma prova com 100 km é brutal! Brutalíssimo! É de uma dureza que eu não sei explicar e na altura jurei para nunca mais me meter noutra (Vitor igual). Mas agora e ainda por cima sem termos de facto completado os 100 km o pensamento já é outro. Havemos de fazer outra. Quando? A seu tempo o diremos =P

Quero agradecer à maioria dos voluntários desta prova, excepto naturalmente a alguns.
Fomos sempre bem recebidos nos abastecimentos, o percurso é bem bonito e variado. Não é claramente o percurso mais bonito de Portugal, mas é bonito e é numa serra especial. Os abastecimentos foram muito bons e o percurso estava bem sinalizado. Em suma, continuo a considerar que é uma prova bem organizada, mas felizmente há provas no nosso país onde somos melhor tratados, principalmente pelo director de prova.

Obrigada aos nossos pais e aos nossos amigos por tudo. Pelas mensagens e telefonemas de apoio e por acreditarem em nós.

Um obrigada especial ao João e à Mafalda Lima. Nem sequer há palavras. Um fim-de-semana das vossas vidas para nos apoiarem. Vocês mereciam mais, mas demos tudo o que tínhamos e se nunca desistimos também foi a pensar em vocês. Nunca poderíamos desistir depois de tudo o que estavam a fazer por nós. 

E obrigada aos "doidos" Sandra e Nuno. Grandes malucos! Obrigada por se desviarem da vossa rota só para nos apoiarem :)

O balanço é positivo apesar de tudo, como vos digo quero é recordar-me dos bons momentos que passei naquela serra. Momentos lindos como o céu estrelado, o grupo de campistas em plena serra a gritar por nós, o nascer do sol, o apoio do João e da Mafalda e a surpresa da Sandra e do Nuno.
E depois foram 24h em movimento! 24h! E conseguimos! Aguentámos! =)
O recorde a bater agora são os 97,5 km ;)

Sejam felizes amigos =)

E não deixem nunca que pessoas de mal com a vida vos demovam de continuar a perseguir os vossos sonhos =)

p.s. E desculpem lá o "calhamaço", mas são quase 100 km! Queriam o quê? Um livro de bolso, não?  =P