terça-feira, 10 de novembro de 2020

Maratona do Porto Virtual, we're still alive

Se não for agora não sei quando irei colocar o blogue em dia. Sem provas devido à pandemia esta é a oportunidade que tenho de colocar o blogue em dia.

Para já vou começar com a "prova" mais recente mas tenciono aos poucos ir escrevendo sobre todas as provas que estão em atraso. Eu sei, é de loucos. Mas se não escrever sobre tudo o que está para trás sinto que não tenho realmente o blogue em dia. É psicológico, eu sei. Faço-o sobretudo porque o blogue, entre outras coisas, é um registo de todas as provas que fiz até hoje, com relato e fotos de momentos fantásticos vividos a correr. Portanto, é agora! É agora que vou colocar a escrita em dia. Tanto tempo fechada em casa vai ter que servir para alguma coisa =P

Tenho saudades vossas. De quem quer que esteja aí desse lado. São poucos mas bons =)

O mundo está virado do avesso. Vivemos tempos completamente estranhos e assustadores e hoje mais do que nunca agradeço ter este hobbie, que na realidade não é um hobbie mas sim uma paixão. Claro que estou a falar da corrida.

Apesar da pandemia, e tirando os quase 2 meses que tivemos em confinamento, temos corrido regularmente e feito treinos fantásticos e descoberto sítios maravilhosos quase à porta de casa mas também por esse país fora.

Este ano é a primeira vez que não corremos uma maratona oficial. Regra geral são duas por ano. Este ano tivemos que nos adaptar e resolvemos inscrever-nos para a Maratona do Porto Virtual. Não é de todo a mesma coisa que uma prova oficial mas foi o que se arranjou.

A maratona, essa distância mítica, tem outro gosto quando é oficial. Em prova é uma autêntica festa, com milhares de pessoas juntas, bandas a animar a malta, muitos sorrisos, muito nervosismo e entusiasmo. A chegada à meta é aquele momento que nos dá calafrios e que tanto pode dar para rir de alegria como chorar de emoção. A maratona é algo de único ao ponto de eu já me estar a emocionar só de escrever sobre isso. Fazer uma maratona em treino não é a mesma coisa. O esforço está lá claro, a parte física digamos assim, está lá. Mas depois falta o resto. E o resto é tudo. 

E foi assim que chegámos ao dia 7 de Novembro de 2020 com muito pouca preparação para correr 42 km e 195m. 

O regulamento dizia que a prova podia ser feita entre 2 e 8 de Novembro a qualquer hora, em qualquer lugar. Fizemos a Maratona do Porto em Lisboa, algo completamente bizarro, e planeámos começar entre as 8h e as 8h30. Eram 8h35 quando começámos a correr no Parque das Nações. O plano era fazer exactamente igual a um treino de 42 km que fizeramos no ano passado na preparação para os 100 km de Abrantes. E assim foi.

Os primeiros km's foram calmos, ainda meio a dormir, sem noção do que nos esperava. Após o Parque das Nações seguia-se a zona mais abandonada, o que actualmente até é bom porque significa que nos cruzamos com menos pessoas. Perto de Santa Apolónia com cerca de 10 km o Vitor perguntou-me se eu também sentia as costas todas molhadas. Sim, também, mas comentei que era normal pois estávamos a correr de mochila às costas e naturalmente que estaríamos mais transpirados nas costas. Mais à frente é que iriamos detectar o problema...

Ao passar pelo Terreiro do Paço, e apesar de muito menos turistas que o habitual, fizemos alguma ginástica a mudar de passeios e a contornar as pessoas mais à larga para evitar aproximações. Ouvia o Vitor a arrastar os pés pelo que comecei logo a pensar que ele não devia ir muito bem. Eu própria pensava para mim que ainda só tinhamos cerca de 12 km. Como raio íamos fazer mais 30? Mas uma coisa de cada vez. Para já só queria chegar à meia-maratona e iniciar o retorno e depois logo se via o que o corpo aguentava mais.

Junto ao Padrão dos Descobrimentos o Vitor começa a ficar para trás, quando olho para ele reparo que tem os calções totalmente encharcados! Afinal as costas molhadas não era só transpiração...era mesmo a bolsa de água furada. E da forma que o Vitor tinha os calções não devia faltar muito para ficar sem água...Numa maratona...quando ainda nem tínhamos chegado à meia. Isto estava a correr bem...

Passámos a Torre de Belém, Algés e no passeio marítimo entre Algés e a Cruz Quebrada atingimos a meia-maratona pelo que estava na altura de voltar para trás. Psicologicamente ajudava pensar que já estávamos no regresso. 

Comentámos entre nós que isto não ia ser fácil. Quase que parecia que nos tínhamos esquecido das 12 maratonas oficiais e outra em treino que já havíamos feito. Ou pelo menos eu tinha parcialmente esquecido. 

Quando voltámos a passar junto à Torre de Belém, com cerca de 23 km, o Vitor já quase não tinha água na mochila pelo que decidimos comprar 2 garrafas de água. Felizmente quando fazemos distâncias maiores levamos sempre algum dinheiro e hoje em dia também levamos máscaras e álcool gel. Já faz parte do material obrigatório.



Chegados aos 25 km foi pensar a coisa km a km e esperar que pelo menos aguentássemos até aos 30 km. Mas não aguentámos. Aos 27 km não deu mais e começámos a andar. Previamente já tínhamos traçado um plano de caminhar 300 m e correr 700m e ir assim até ao fim. 

Ver os km's a passar tão devagar é desesperante. Ainda por cima estávamos agora a passar pela parte mais feia, a zona de contentores e armazéns entre Santa Apolónia e o Parque das Nações. De nada nos serviram as gomas, os cajus com sal ou os géis que levámos. Não há milagres. Começavam também as dores características, uma dor aqui, outra dor ali. E já sonhávamos com os donuts que estavam na mala do carro. Atleta sofre.

Avistávamos enfim o Parque das Nações novamente, faltavam agora 5 km. Não tínhamos qualquer objectivo de tempo mas agora tão perto da meta imaginária começava a fazer contas. Ainda era possível um sub5h30. Em 12 maratonas oficiais o pior tempo do Vitor é 5h25m e o meu pior tempo é 5h30m (primeira maratona, ainda não corria com ele). Não que fosse muito importante fazer tempos numa maratona virtual mas psicologicamente ajudava ter um objectivo para os km's finais. Quando chegámos aos 40 km fizemos contas rapidamente e percebemos que para as sub 5h30 tínhamos que ir sempre a correr nos 2 km finais...Para o casalito isso era pedir muito, estávamos de rastos. Mas lá fomos buscar forças e completámos os 42 km e 195m em 5h29m50s! 

Não houve festejos, não houve meta, não houve medalha. Mas houve 2 atletas completamente partidos a dizerem uns quantos palavrões enquanto comiam donuts ah ah ah ah.


Não dá para ver bem mas o meu dorsal tinha um 8 =)


Ora aí está a prova

Mhan mhan mhan

Estava feita! Uma maratona virtual. Podemos dizer que já corrermos 14 maratonas, mas para a contagem oficial são 12.

Foi bem durinho correr estes 42 km. Ficámos todos partidinhos, mas hoje já vamos regressar aos treinos. Só 5 km para descomprimir as pernas e amanhã já será como se nada se tivesse passado no fim-de-semana =P

Venha a próxima! Mas de preferência uma prova à séria! Vai-te embora Covid!!!

Bons treinos malta! 

6 comentários:

  1. Olha que prazer tornar a ler um artigo neste blogue tão especial! :)
    E logo com mais um feito notável! Muitos e muitos parabéns pela vossa resiliência! Se fazer uma Maratona a sério já custa, uma sem qualquer incentivo de ver outros atletas, público e de tudo que dá aquele gosto tão especial, é obra! Nunca me fartarei de dizer que são os meus heróis :)
    Sim, que esta fase passe rápida! Faz falta o convívio, o toque, um sempre saboroso abraço e tudo o mais.
    Enquanto escrevo isto, já olhei várias vezes para cima para a foto do donuts. Dá cá uma vontade de dar uma trinca! Mas se desse, suspeito que este não teria lactose mas sim pixeis!
    Beijinhos, abraços e força para os vossos próximos desafios!!! :)

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    1. Obrigada amigo =) E eu já tinha saudades de escrever!
      Sim, temos saudades do convívio e dos abraços à familia e amigos. Fase muito estranha que estamos todos a viver.
      Nós guardamos os donuts para estes momentos em que realmente os merecemos =)
      Beijinhos e abraços e força também para os teus treinos!

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  2. Que bom ver as vossas caras :)

    Claro que também é bom ver que o blogue vai sendo populado com os registos possíveis.

    Se correr uma maratona já deve ser bem difícil, assim, sem público, sem qualquer tipo de apoio deve ser bem mais complicado.

    Pelo que percebi foram em autonomia total, "à la Trail" :)

    Beijinhos e Abraços, mantenham-se felizes e saudáveis.

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  3. Estamos na mesma =)

    Sim, fomos em autonomia total. Foi uma maratona diferente eh eh eh.

    Beijinhos e abraços e tudo de bom para ti

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  4. Tão bom ler este relato, mesmo com algum atraso :)

    Como já foi dito, se fazer uma maratona não é fácil, fazer uma maratona em auto suficiência, menos ainda! Parabéns, mais uma vez :)

    Ainda me ri com a história do Vítor... Já me aconteceu o mesmo num Trail. De repente, comecei a sentir as costas molhadas e a achar que estava a suar demasiado de repente... Só no final é que percebi o que tinha acontecido. O que vale é que levava dois flasks e não fiquei sem água :)

    A esta hora já estão mais do que recuperados, e espero que já a sonhar com a próxima, que esperemos que já não seja virtual!

    Beijinhos aos dois

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    1. Obrigada Inês. Ainda bem que gostaste de ler =)

      Eu recentemente descobri um truque para tapar buracos nas bolsas de água, uns pensos rápidos extra fortes e à prova de água. E resulta! Dá para desenrascar em provas ou treinos mais longos.

      Beijinhos

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