Fui completamente apanhada de surpresa quando pouco mais de 1 semana antes da minha mãe fazer anos, ela se vira para mim e diz que este ano não quer passar o aniversário em Lisboa. Pergunto-lhe onde está a pensar ir, pensando que ela me vai responder sei lá Sintra, Coimbra, Serra da Estrela, mas ela responde-me "PARIS!"
Paris???!!!???!!!??
Toca a fazer preparativos e malas. Se há uma cidade que eu sempre quis conhecer essa cidade é Londres. Felizmente que há cerca de 2 anos tive o prazer de lá ir. E correspondeu às minhas expectativas. Adorei Londres! Paris nunca me puxou muito. Quem diria que também iria adorar Paris?
Dois dias depois de ver um filme sobre um piloto alcoólico a aterrar um avião...levantei voo da Portela no "Humberto Delgado". Para quem não sabe, ou nunca reparou, os aviões (não sei se de todas as companhias) costumam ter nomes. Eu adoro andar de avião, por isso não é um filmezinho que me vai deixar com medo, mas saber que vou no "Humberto Delgado" deu-me mais confiança.
Quando aterrámos em Paris até me virei para a minha mãe e disse "Só isto? Bem, que podíamos ter tido um bocadinho de mais turbulência". Se estão a pensar que estou a gozar, não estou. Um bocadinho de turbulência tem mais piada." Pronto, é oficial, sou mesmo maluca! =)
Já tinha planeado tudo para a viagem e inclui na mala equipamento de corrida =)
Mas apesar de termos visto o boletim meteorológico, ver é uma coisa e sentir é outra, por isso vou tentar descrever-vos o tempo que apanhei em Paris. E o pior dia foi mesmo o primeiro, porque estava um vento GELADO! Todos os dias a temperatura rondou sempre os -5ºC a 2ºC, mas no primeiro dia estava vento e passei a tarde mais fria de toda a minha existência, apesar de já ter estado mais a norte no globo. Estava tanto frio, mas tanto frio que apesar de eu ter dois pares de meias, collants, calças de bombazine, duas camisolas grossas, casaco, luvas, cachecol e gorro, passei imenso frio na mesma. Esse primeiro dia serviu mais para passearmos nas ruas e só vos posso dizer que cada vez que eu via uma loja (até algumas nos Champs Elysées! tipo Adidas que mesmo a metade do preço é cara) arrastava a minha mãe lá para dentro só para ver se aquecia. Podíamos estar 10 minutos dentro duma loja como tivemos dentro duma livraria e eu aquecia todo o corpo excepto os pés que continuavam gelados como nunca os tivera antes.
Isto só para vos dar o panorama de como viria a ser o meu treino em Paris.
Planeei o meu treino para quinta de manhã, precisamente há 8 dias atrás. Mas no dia anterior cheguei à conclusão que a não ser que quisesse morrer congelada era aconselhável comprar mais alguma coisa para vestir no treino. Foi assim que comprei na Decathlon um casaco e uma fita para o cabelo de modo a tapar as orelhas. Se dúvidas houvessem bastava ver como os parisienses corriam, todos tapados e com gorros na cabeça, tirando só um ou dois malucos que vi a correrem de calções, mas estes só podiam mesmo ser malucos.
Quinta-feira de manhã, dia de anos da minha mãe.
No dia anterior já lhe tinha dito para ficar sossegadinha a dormir quando eu saísse mas para depois estar atenta à porta quando eu voltasse cerca de meia hora depois. Teve de ser assim, eu ia correr de madrugada num sítio que não conhecia. Tive de dizer à minha mãe para contar comigo cerca de meia hora depois.
Foi mesmo só um treino para eu poder dizer que corri em Paris.
Cerca das 7 da manhã, saí do quarto de hotel vestida com duas camadas de roupa, tapa orelhas e luvas! Chego à porta do hotel e esta está fechada no trinco. Oh não, não posso sair para a rua! Felizmente os senhores devem ter ouvido barulho no hall de entrada e foram lá abrir a porta. A senhora da recepção olhou para mim e eu disse-lhe "Je vais faire mon jogging", ela sorriu e fez-me sinal que estava muito frio, mas depois fez-me o sinal de "fixe" com o polegar. Entendi como um incentivo "vá, vai lá correr ao frio que só te faz é bem". E portanto fui. Ainda era de noite, mas já haviam algumas pessoas nas ruas a abrir os cafés e assim.
No dia anterior eu tinha olhado bem para o mapa e escrito num papel o trajecto com as ruas que deveria seguir para chegar a um parque que ficava perto do hotel, o Parc Monceau. Sou ou não sou organizada? Levei o papel comigo, mas o parque era perto. À medida que me aproximava é que comecei a aperceber-me duma pequena falha no meu plano. Mas eu estaria doida? Ainda estava de noite. Uma coisa era correr nas ruas já algo movimentadas, outra coisa era correr dentro dum parque escuro. E se calhar nem estava aberto. Decidi ir só cuscar a entrada, mas quando me aproximei comecei a ver algo através do gradeamento...Eram pessoas...a correr! Várias pessoas. Quando cheguei ao portão ia mais outra pessoa a entrar comigo e dentro do parque estavam várias pessoas a correr, incluindo mulheres. Avaliei rapidamente a situação e decidi que era seguro entrar no parque.
Haviam de ver o pessoal a correr, iam todos tão certinhos, uns atrás dos outros e todos a seguirem pelo mesmo percurso, à volta do parque, nunca pelo meio, que juro que por momentos pensei que se tratasse de uma prova. Meti-me entre eles, ia a correr atrás de uma senhora que aos poucos foi-me ganhando terreno.Depois fui ultrapassada por um senhor. Caramba, eles correm bem!(se calhar era mesmo uma prova) Ultrapassei outra senhora, mas não conta porque ela ia a caminhar. Basicamente, e não me perguntem porquê, eles só corriam à volta do parque e nunca iam pelo meio. Curiosamente à volta não havia muita luz, por isso eu nem via onde punha os pés e no meio é que havia vários candeeiros. Mas como eles só corriam à volta achei mais seguro correr onde havia várias pessoas do que correr onde havia luz. A única explicação que encontro para eles só correrem pelo perímetro do parque é fazerem uma maior distância. Mas foi mesmo super estranho, porque dei uma volta ao parque e na segunda volta decidi virar em direcção ao meio para depois ir-me embora e senti que estava a cometer uma grande infracção. Quem ousa deixar a "fila"? Quem ousa violar as regras e seguir pelo meio do parque? A portuguesa...
Voltei para o hotel e tomei um belo duche quentinho. Durante o treino não tive muito frio, até transpirei, mas relembro que eu ia toda tapada e com duas camadas de roupa!
Pronto, e foi isto o meu treino em Paris. Pequenino, mas interessante e...estranho.
No dia seguinte fui lá ao parque para o ver de dia e podem ver aqui umas fotos.
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Estação de metro de Monceau, à porta de uma das entradas do Parc Monceau |
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Um lago com alguns patos. Embora não se vejam eles estavam lá a queixar-se do frio |
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Uma simulaçãozinha para vocês me imaginarem a correr em Paris =P |
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Aqui estou mesmo a correr, mas também foi só para a foto. E estou a correr pelo meio! Que afronta! Prendam-me já! |
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Ahah! Aqui é que se pode correr! Lá vão eles lá ao fundo. E até vai lá um doido a correr de calções! |
No dia do treino à tarde fui passear com a minha mãe a um parque bem maior e já um pouco afastado do centro da cidade. Chama-se Bois de Boulogne e se eu vivesse em Paris era o sítio onde eu gostaria de ir correr. É um parque/bosque e é enorme e lindo.
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Palavras para quê? |
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Até tirei as luvas para tocar na neve de tão feliz fiquei por ver tanta neve, pois não se via tanta no centro da cidade |
Aiai...tenho de voltar um dia a Paris só para correr no Bois de Boulogne.
Só pela piada, embora não tenha nada a ver com corrida:
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Hehe! Não, não comi o palmier gigante sozinha, mas bem que podia ter comido. Mhan mham. |
Para terminar estes dias em beleza nada como chegar ao aeroporto e saber que o nosso voo foi cancelado por causa da neve. Não percebi porque raio foi o nosso voo cancelado, se depois nos meteram noutro cuja previsão era de sair de Paris passado uma hora e meia... Não, não saiu passada hora e meia. Era suposto chegarmos a Lisboa às 20h30 e chegámos às 00h30. Quando entrámos no avião era este o panorama:
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Mete respeitinho. |
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A visão da minha janela... |
Para quem tenha medo de andar de avião, não eram as condições ideais. Para quem adora andar de avião é uma experiência gira, mas mete muito respeito. O avião não podia partir naquelas condições e teve de vir uma equipa qualquer, que segundo o piloto se denominava qualquer coisa como "De-ice, anti-ice", cujo objectivo era derreter toda a neve acumulada por cima do avião. De regresso a Lisboa foi a noite que se viu, um temporal que até metia medo. Apanhámos mais turbulência a aterrar em Lisboa do que a sair de Paris. Felizmente que o avião era o "Pêro Vaz de Caminha" do tempo dos Descobrimentos. O gajo tinha alguma experiência em tentar encontrar o caminho certo, mesmo quando as condições não eram as melhores, por isso e mais uma vez, lá conseguiu levar-nos a bom porto (neste caso aeroporto) =P.
Depois disto tudo só ganhei ainda mais admiração pelos aviões e pelos pilotos e todo o pessoal que trabalha em aeroportos. É impressionante como as coisas funcionam, mesmo em condições adversas. Claro que por vezes as coisas falham, mas é raro. Muito mais depressa temos um acidente de carro do que um de avião, por isso continuo a sentir-me muito mais segura a andar de avião do que de carro.
Foram umas mini-férias (fomos terça a meio da manhã e voltámos sexta à noite) muito boas e adorei conhecer Paris. Espero poder lá voltar, pois gostei mais do que estava à espera. Até gostei mais dos franceses do que estava à espera, embora não sejam o povo mais acolhedor do mundo, não tenho razões de queixa. Foram sempre cordiais e amáveis e muitos deles até correm, por isso não podem ser assim tão más pessoas, não é? ;)