quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Trail Abrantes 100, o sonho dos 100 km realizou-se

19.10.2019

Ainda não parece real mas É MESMO!
Concluímos a nossa primeira prova de três digitos.
Os míticos 3 digitos.

Foi sem dúvida a maior e mais dura aventura que alguma vez vivemos. O nosso corpo e mente foram postos à prova de uma forma brutal! E claramente é preciso treinar para conseguirmos concluir uma prova destas mas no final o que vai fazer a diferença é a nossa cabeça. Porque a determinada altura o corpo vai implorar que paremos e a nossa cabeça vai ter que "forçá-lo" a continuar. É muito muito muito duro! 

Vamos deixar de ter prazer em correr, vamos pensar que o esforço não vale a pena, que não vamos ganhar nada, que tudo o que queremos é deitar-nos numa cama o mais rapidamente possível e a eterna questão "Por que raio nos metemos nós nestas coisas?". E vamos ter que afastar todos estes pensamentos para que só um prevaleça: 

"EU QUERO CHEGAR À META!"

Pelo meio vamos dizer tantos mas tantos palavrões que as pessoas que nos conhecem bem nem acreditariam, mas é verdade, foram ditos muitos palavrões, por vezes em catadupa. Acho que era a única coisa que ainda tínhamos força para dizer, isso e "Estou farta disto!", e "Só quero tomar um banho quente e deitar-me!"

Preparem-se, vão buscar uma mantinha para tapar as pernas que a viagem (leitura) vai ser longa =)

Sei que o blogue está um pouco parado. Oh, quem quero eu enganar?... Está parado desde Maio. Mas isso não significa que nós tenhamos estado parados. Bem pelo contrário, nunca treinámos tanto.
O trabalho não nos deixou muito tempo livre para a escrita e o tempo livre que tínhamos era dedicado aos treinos e à família.

Desde o inicio do ano (acho que até desde finais de 2018) que tínhamos planeado voltar a tentar terminar uma prova com 100 km mas havia tantas condicionantes... não queríamos no Inverno porque fazer um ultra-trail tão longo com chuva e frio nem pensar. Tinha que ser numa altura em que nos meses anteriores desse para fazer umas ultras mais pequenas e/ou treinos mais longos. E ainda tínhamos que pensar noutras provas mais "pequenas" e nas quais já estávamos inscritos ou estávamos a pensar inscrever-nos. O ideal seria que fosse na segunda metade do ano para termos tempo para preparar-nos quer física quer mentalmente. 
Assim, chegámos ao Trail de Abrantes 100 em Outubro. Dava-nos muito tempo para treinar e a esperança que, sendo já Outono o tempo estivesse ameno.

E foi assim que no dia em que abriram as inscrições, dia 1 de Junho, eu e o Vitor logo nos inscrevemos para esta aventura. Elaborámos um plano de treinos e reforçámos os treinos de corrida com treinos de ginásio.

Entre uma ultra ou outra em prova fizemos também dois treinos mais longos que o habitual, um de 42 km e 195 m =) e um de 50 km. Pelos relatos que tínhamos lido e em particular o do Filipe Torres sabíamos que a prova seria muito corrível (pois...este ano o percurso não estava exactamente igual mas lá iremos) pelo que optámos que estes 2 treinos fossem em "estrada" e não em trilhos. Ambos correram muito bem, conseguimos ainda fazer o treino da maratona abaixo das 5h e o dos 50 km foi em 7 h e pouco. Pelo meio treinos e provas quer em estrada quer em trilhos. Não queríamos descurar nada, tendo em conta que a prova seria de trilhos mas teria muitas zonas para correr. 

Pelo meio quer o Vitor quer eu andámos semi-lesionados.
Eu com uma dor na anca desde a Corrida Auchan a 14/09, dor essa que só desapareceu depois dos 100 de Abrantes. Portanto, para a próxima vez que tiverem uma dor chata que não vos impede de correr mas que é uma moinha chata que lá está e que teima em desaparecer, pensem em correr 100 km que isso passa eh eh eh =P

Quanto ao Vitor desde o treino dos 50 km a 31/08 que andou com um problema no gémeo. Chegou a pensar em faltar à Meia das Lampas mas durante o aquecimento decidiu fazer pelo menos até aos 13 km. Assim, fizemos os primeiros 3-4 km juntos e depois eu segui sozinha. Ele acabaria por terminar bem e apenas uns minutos depois de mim. Ficámos novamente confiantes mas na semana seguinte, na Corrida Auchan, novamente segui sozinha mas desta vez o Vitor já na recta final sentiu nova pontada no gémeo e acabou por cancelar a sua participação no Challenge 360º das Amoreiras no dia seguinte. Esteve sem treinar quase 2 semanas andou a gelo e anti-inflamatório e estávamos já a menos de 1 mês dos 100. ..Andámos apreensivos.

O Vitor decidiu ir comigo aos 29 km dos Trilhos dos Templários por já se sentir melhor. Penúltima prova antes dos 100 km de Abrantes para testar. Se a coisa não corresse bem seria muito mau sinal. Felizmente a prova acabaria por correr bem melhor a ele do que a mim, que me fui abaixo com o calor e descurei a alimentação. Agora imaginem estar a apenas 3 semanas duma prova de 100 km e correr-vos mal uma de "meros" 29 km... Mas há dias e dias e temos também que aprender com os erros que cometemos e neste dia estava calor e não me alimentei suficientemente bem durante a prova.

Na semana seguinte fomos fazer os 24 km do Trilho das Dores e felizmente, apesar da dureza da prova, não houve dores para ninguém. O último ensaio geral tinha corrido super bem, tal como desejávamos.

A juntar a isto ainda fui ao pódio no escalão em cada uma destas provas, fui 3ª Sen F. Não havia mais nenhuma no meu escalão mas conta na mesma, certo ? ;)

A duas semanas da prova o treino estava feito, agora era só manter.

Os 100 km iriam começar à 1h de sábado, dia 19, pelo que quando marquei as minhas férias deste ano tirei logo a sexta-feira para poder descansar um pouco e fazer os últimos preparativos. O Vitor infelizmente não conseguiu tirar o dia de férias pelo que após ter trabalhado 9 horas seguimos para Abrantes e só deu tempo para descansar um pouco no hotel antes da partida. Mega resistente!!!

Já tínhamos encomendado uma piza pelo que assim que o Vitor saiu do trabalho seguimos caminho rumo a Abrantes, fazendo só uma paragem no caminho para comer. Eu estava um bocado nervosa e ansiosa, o Vitor era o habitual...sempre descontraído como se fosse só dar um passeio...este homem tem nervos de aço!

Chegados a Abrantes fomos logo levantar os dorsais. 113 para mim, 114 para o Vitor. Fogo, isto era real! Íamos mesmo alinhar à partida de um trail com 100 km! AI CA MEDO!
Seguimos para o hotel onde nos deitámos durante uma meia hora e depois começámos a preparar a tralha toda. Não podia falhar nada! Houve alguma hesitação sobre o que haveríamos de vestir e levar na mochila pois o tempo estava fresco mas não estava muito frio. O pior era a previsão de chuva.


Os nossos dorsais.

Optámos por correr de calções, o que foi uma excelente ideia pois não esteve frio, só já na segunda noite é que estava mais frio, e com a t-shirt da equipa com o impermeável por cima (também decisão sensata). Ao km 75 vestimos camisola de manga comprida pois começou a ficar mais frio e porque o corpo já estava molhado.

Eram 11h e pouco quando saímos do hotel e nos dirigimos para o Estádio Municipal de Abrantes onde apanhámos o autocarro para a partida na Praça Barão da Batalha, no centro de Abrantes. Aí encontrámos algumas caras conhecidas, trocámos palavras de incentivo e começámos a absorver aquela atmosfera única. Comecei a ficar arrepiada. De certeza que isto ia custar mas ia ser uma aventura épica! Um privilégio que nem todos têm! Não sabíamos como iria terminar mas sabíamos que independentemente do desfecho seria uma aventura inesquecível.

Últimos momentos de descanso antes da partida.

Venham daí esses 100 km!
Animação antes da prova:



Entrámos para a câmara de chamada e ao som da música Run Boy Run foi feita a contagem decrescente para a partida. Olhámos um para o outro e demos um beijo, estava a começar.

Filme da nossa partida (dá-me arrepios sempre que o vejo):



Até ao PAC 2 (km 0 ao 19)


Aí vão eles a iniciar a ultra aventura.

Corremos pelas ruas de Abrantes com algumas pessoas a apoiar e passados uns 3 km entrámos nos primeiros trilhos bastante corríveis. Uma subida ou outra mas muito ligeiras. Chegámos facilmente ao PAC 1 por volta do km 7 e em menos de 1h de prova. Não perdemos muito tempo neste PAC, comemos umas batatas fritas, bebemos um pouco de Coca-Cola e seguimos caminho. O percurso continuava a ser muito corrível por isso aproveitámos para correr enquanto dava. De vez em quando caminhávamos uns metros para descansar um pouco as pernas mas de facto o inicio era muito corrível e estávamos a aproveitar. No autocarro para a partida tínhamos ouvido uns atletas a comentar que este ano o percurso estava um pouco diferente e mais difícil pelo que não sabíamos o que ainda estaria para vir...

Com a cidade de Abrantes ao fundo.


Chegámos ao PAC 2, por volta do km 19, também com relativa facilidade. Lembro-me de pensar que seria bom era correr assim de dia para podermos ver a paisagem. Era de noite, só víamos aquilo que os nossos frontais nos permitiam, que era o percurso à nossa frente. Comemos mais qualquer coisa, os abastecimentos eram excelentes e com muitos voluntários.

PAC 2 ao PAC 3 (km 19 ao 25)

Seguimos caminho. No próximo PAC planeávamos perder um pouco mais de tempo pois era a primeira barreira horária. Seria aos 25 km e tínhamos que chegar lá antes de fazer 5h de prova.

Por volta do  km 22 chegámos a uma zona mais técnica, um single track entre pedras junto à barragem e onde um bombeiro dentro de um barco controlava a progressão dos atletas.

Depois disto e como o percurso se mantinha mais ou menos corrível, quase sempre em estradões, conseguimos chegar aos PAC 3 antes das 4h de prova o que para nós era muito bom. Mesmo antes de chegarmos caíram umas gotas de chuva mas foi coisa de pouca dura.
É preciso elogiar, e bem, a organização pelos excelentes abastecimentos! Não só em termos de comes e bebes mas também em termos de voluntários (sempre vários) e da estrutura. Este PAC ficava dentro de um edifício, tinha cadeiras e até um sofá para nos sentarmos, assim como casas de banho. Top!

Esta sopa soube-me tão bem!

Aproveitámos para comer uma sopa de legumes quentinha enquanto descansávamos um pouco no sofá. Havia ainda bifanas, batatas fritas, gomas, chocolates, bolachas, tostas, chourição, Coca-Cola, água e muitas outras coisas. Depois de esvaziarmos as bexigas decidimos seguir caminho rumo ao PAC 4.

À saída do PAC 3, fotografados pelo grande Zé, das Fotos do Zé.



PAC 3 ao PAC 4 (km 25 ao 32,5)

Estávamos a sentir-nos bem, nem estava a dar pela minha dor na anca e o gémeo do Vitor também não dava sinal. Perfeito. Continuámos caminho. Confesso que nem me lembro bem do percurso. Ainda era de noite. Só sei que no geral era mais ou menos corrível, com alguns estradões e praticamente sem subidas pelo que rapidamente chegámos ao PAC 4 por volta do km 32,5 junto a um estádio. Novamente comemos qualquer coisa mas ainda estávamos bem depois da sopa quentinha do PAC anterior. Neste PAC vimos um atleta a sentar-se numa cadeira e pareceu-nos que iria desistir devido a uma dor. Mais tarde viríamos a saber através do João que havia uns quantos atletas a desistirem ao longo do percurso.

PAC 4 ao PAC 5 (km 32,5 ao 41,5)

Rapidamente saímos deste PAC rumo ao seguinte onde, segundo o planeado, o João lá estaria a esperar-nos. O João assim que soube que íamos fazer 100 km logo se voluntariou para ser o nosso carro de apoio. Também ele fez uma ultra de PAC em PAC a apanhar secas à nossa espera e a colocar várias pessoas a par da nossa progressão. Nem há palavras. 1000 obrigados João.

Estávamos um pouco fartos de correr de noite. Cansa correr de noite pois como apenas vamos com a luz do frontal a guiar-nos, a concentração tem que ser muito maior.
Como estava nublado o dia estava a demorar mais um pouco a amanhecer mas aos poucos fomos ouvindo as aves a despertar. Uns galos a darem os bons dias à malta e vários pássaros ao longo do caminho a anunciarem o amanhecer. São momentos especiais que são vividos quando vamos a correr ou caminhar pelos campos e a luz do dia chega ao som dos pássaros. A verdadeira beleza está nestes momentos. Conforme o dia clareava, começaram a surgir mais trilhos e os estradões começaram a escassear. Mesmo assim nada de difícil nem de muito duro.

Avistámos Sentieiras, a terra onde estava o PAC 5 e onde o João estaria à nossa espera. Mas antes ainda tínhamos uma boa subida até lá chegar, talvez uma da maiores durante o percurso, pelo que quando chegámos junto do João estávamos um pouco mais cansados devido ao esforço que acabarámos de fazer. Mesmo assim foi uma subida perfeitamente aceitável e não demasiado dura.

Ficámos muito contentes por ver uma cara amiga. Como eram mais ou menos 8h da manhã aproveitei para mandar as primeiras mensagens aos meus pais, embora o João depois se tenha encarregue também de pôr o meu pai a par da nossa progressão. Estávamos com cerca de 7h de prova e praticamente 42 km pelo que considerámos estar com um bom ritmo para as nossas capacidades. Estávamos também perfeitamente cientes que todo e qualquer tempo que tivéssemos de folga seria facilmente perdido no final e claro que tínhamos razão.

A chegar ao PAC 5 e junto do João depois de uma subida jeitosa.


No PAC 5.
Enquanto o Vitor vai comendo uma canja
eu vou enviando mensagens aos meus pais.

PAC 5 ao 6 (km 41,5 ao 50)


Saímos deste PAC e depois de nos embrenharmos por uns trilhos entrámos numa quinta muito bonita embora um pouco abandonada. Depois de sairmos da quinta seguimos algum tempo junto a um grupo de 3 ou 4 atletas onde todos levavam bastões. Também eu considerei antes da prova se deveria levar os meus bastões mas optei por uns dias antes entregá-los ao João para, caso precisasse deles, ele dar-me a meio do caminho. Os bastões dão uma grande ajuda nas subidas e também se formos a caminhar, mas nas zonas de corrida ou nas zonas mais técnicas podem atrapalhar pelo que acabei por nunca me servir deles.

Lembro-me depois duma grande descida no meio das árvores para chegarmos junto a uma zona verde muito bonita junto a um ribeiro.




E depois disto já só me lembro de estarmos a entrar em Casais de Revelhos e de vermos o João. Continuávamos bem, cansados óbvio mas bem. Chegámos à segunda barreira horária com umas 3h de avanço. Também comemos sopa neste PAC e novamente batatas fritas e Coca-Cola que é aquilo que eu normalmente como mais. Coca-Cola tem cafeína e açúcar pelo que é bom para dar ali um boost à saída do abastecimento e batatas fritas por causa do sal, tendo em conta que perdemos muito sal na transpiração.

Chegada ao PAC 6.
Metade estava feito.

Aqui o João transmitiu-nos as forças da malta que nos estava a seguir à distância. E que bom foi sentir a energia de todos!

Depois de mais um xixizinho seguimos caminho rumo ao PAC 7, que supostamente seria ao km 57 mas já foi ao 61.

PAC 6 ao 7 (km 50 ao 61)

Chegar aos 50 km a sentir-nos bem era um óptimo sinal. Estava feito metade em 9h05m. Mas sabíamos perfeitamente que isto ainda agora estava a começar... É engraçado dizer que uma prova ainda está a começar aos 50 km...

Entre o PAC 6 e o 7 não me lembro de quase nada (dêem-me um desconto, foram quase 23h de prova) pelo que vamos deduzir que não se passou nada de relevante aqui. Só me lembro da parte final deste segmento ser mais técnica e de seguirmos atrás de outro casal e da rapariga a certa altura simplesmente sentar-se no chão já muito cansada. Tentámos dar alguma força dizendo que o abastecimento era já ali a umas centenas de metros (já ouvíamos vozes) mas ela lá ficou com o companheiro. Desconhecemos se terminaram. Ver outras pessoas a desistirem ou simplesmente já estoiradas não é fácil, também mexe com as nossas emoções e lembra-nos que o que estamos a fazer é muito duro.

Com 60 km nas pernas ainda corria! E sorria!


Começa a chover um pouco mais forte, chegamos ao PAC 7, ao km 61 e novamente junto do João que continua a dar-nos forças e a dizer-nos que vamos bem. Nesta altura já vamos mais cansados. Neste PAC preciso de me sentar um pouco numa cadeira enquanto como mais qualquer coisa e mentalizar-me que quando sairmos dali iremos para a chuva. Não vale a pena perder muito tempo. Siga que pra frente é o caminho!

PAC 7 ao 8 (km 61 ao 67)

Diria que é neste segmento da prova que o jogo vai começar a virar.
Vamos apanhar alguns estradões mas o corpo já não tem tantas forças. Ainda vamos correndo mas a velocidade naturalmente já não é a mesma. Seguimos com mais dois atletas que ora vão à nossa frente ora vão atrás de nós. Chegamos ao PAC 8 e cai uma grande carga de água. Este PAC é junto a uma oliveira milenar e também aqui tive que me sentar um pouco para recuperar forças. Comi metade de uma sandes com chourição e pouco mais. Novamente o João foi incansável a dar-nos força mesmo debaixo daquela chuva. Seguimos caminho.

PAC 8 ao 9 (km 67 ao 75)

Os nossos pés começam a formar bolhas. No caso do Vitor não é tão comum e ao inicio ele apenas se queixa que tem uma pedra nos ténis. Mais tarde descobre que a "pedra" era uma bolha.

Começa também a aparecer-me uma dor no gémeo direito, dor essa que vai piorando e que a certa altura já me faz coxear um pouco.

Mal me lembro do percurso. Só sei que já não era tão corrível e quando dava para correr qualquer coisinha era mesmo só isso, correr qualquer coisinha.

Só me lembro de estarmos a chegar ao PAC 9, última barreira horária, e estar já muito cansada. O Vitor ainda ia aceitável. Chegámos ao km 75 com 15h de prova pelo que continuávamos com 3h de avanço. Isto iria tudo à vida daqui até à meta! O piso iria piorar, as dores iriam piorar, as bolhas iriam aumentar e o cansaço iria intensificar-se.

A chegar ao PAC 9, km 75.


Assim que lá chegámos pedimos ao João as duas camisolas de manga comprida que tínhamos deixado com ele. Estava a ficar mais frio e devido à chuva já estávamos todos molhados da cintura para baixo pelo que ajudou a aquecer. Aproveitámos para comer novamente uma sopa e fartei-me de comer bolachas e biscoitos. Neste PAC juntaram-se mais de 10 atletas e todos aproveitaram para se sentar a recuperar forças. O Vitor perguntou-me se a minha dor no gémeo era aceitável e se eu achava que podia ser alguma lesão mais grave. Disse-lhe que achava que não, mas que percebo eu de lesões? Dava para correr? Sim, lentamente e a coxear mas dava. Eu já estava muito cansada mas ainda aguentava. Só esperava que daqui até à meta houvesse muitos estradões....Não custa sonhar...
Despedimo-nos do João e continuámos.

PAC 9 ao 10 (km 75 ao 84)

Entre o km 75 e o 80 pareceu-me o paraíso pois não havia zonas técnicas, só estradões bons para correr. Corríamos à velocidade estonteante de 8 a 9 min/km =P (mais à frente iriamos "correr" ainda mais devagar) e a minha passada era já claramente a coxear devido à dor no gémeo. Ainda faltavam mais de 20 km!

Numa descida senti literalmente uma das bolhas a rebentar. Puff! Ia com os pés tão massacrados, mas tão massacrados que até dava dó!
(Nota: Vou-me já adiantar aqui e dizer-vos que depois de acabarmos e quando chegámos ao hotel e vimos os meus pés até nos assustámos. Eu tinha bolhas (algumas já meio rebentadas) em toda a parte da frente do pé, num dos pés ocupava quase metade da planta do pé! Nunca tinha visto nada assim e nunca tive os pés neste estado.)

Nesta altura, apesar do cansaço, das bolhas e das dores no meu gémeo direito até estávamos felizes pois se estava a dar para correr qualquer coisita ainda havia esperança de cortar aquela meta e cortá-la antes do tempo limite de 22 horas. Oh, como as coisas mudam de um momento para o outro...

Por volta do km 80 entrámos numa zona mais técnica e de trilhos lindíssimos, muito verdes e junto a rios e ribeiros. Num momento estávamos a manter um trote de corrida e no outro momento a seguir estávamos a progredir muito lentamente em trilhos muito técnicos que por mais que uma vez incluíam cordas. Fazer escalada quando se tem mais de 80 km nas pernas, bolhas nos pés e uma perna que já não está grande coisa não é mesmo nada fácil.

Como explicar a alguém que não faz trail o que é uma zona técnica?
Uma zona técnica é uma zona que exige muita concentração e algum jeitinho. Nestas zonas não dá para correr e às vezes até caminhar é difícil, pois por vezes temos que parar para avaliar o melhor caminho. Há rochas e pedras para transpor, há ribeiros para atravessar. Juntar a isto uma pitada de lama e fica no ponto.

Chegámos a uma rocha, olhámos para baixo e vimos uma corda grossa e lá em baixo um bombeiro. "F***-se! Só podem estar a brincar!" Primeiro desceu o Vítor que é mais desenrascado que eu nestas coisas e depois ficou junto ao bombeiro a dar-me dicas para descer. "Não largues a corda!" e eu "Claro que não vou largar a corda!!!", "Põe o pé direito ali, agora o esquerdo ali naquela saliência." E foi isto enquanto descíamos aquela rocha agarrados a uma corda. Ele a dar-me indicações e eu a dizer palavrões. Uns meros metros de escalada deixaram-me esgotada. O esforço, a concentração extra e o medo levaram-me ainda mais ao limite. Como ia eu aguentar mais disto? E como ia eu aguentar até à meta?

Até ao PAC 10 iríamos continuar por trilhos muito técnicos, levadas onde tínhamos que ter a concentração no máximo e assentar bem os pés no chão para não escorregar. Relembro, chuviscava de vez em quando e já havia alguma lama...
Também passámos debaixo dumas rochas onde tínhamos que nos curvar para não batermos com as cabeças. Aqui durante algum tempo um bombeiro seguiu atrás de nós.

Estava-me a passar!!! Aquela zona era lindíssima mas nem conseguia apreciá-la devidamente pois toda a minha concentração tinha que ir para o terreno à minha frente. Tinha que ver onde colocar os pés e por vezes também as mãos. Oh quantas vezes tivemos nós que nos agarrar ao chão ou a rochas para nos auxiliar numa determina zona. Tínhamos as mãos todas sujas e fomos limpando ao musgo ou à roupa.

Nem queria acreditar que tinham colocado a parte mais difícil da prova depois dos 80 km! F***-se! C******!

Chegados ao PAC 10 já perto dos 85 km tive novamente que me sentar. Estava MUITO cansada! Chovia novamente, por vezes parava, por vezes caía com mais força. O terreno estava a ficar pior.
Os voluntários neste abastecimento comentaram que já estava a ficar escuro, não tarda iria ficar de noite. Porra, estávamos a entrar na nossa segunda noite de corrida!

Cansados?
É impressão vossa.
À saída do PAC 10, ao km 84.






PAC 10 ao 11 ( km 84 ao 92)

Caminhávamos agora em direcção ao último abastecimento antes da meta e estava a ficar de noite. A chuva ora caía com mais força, ora parava. A nossa progressão era agora muito lenta, ainda havia mais uns trilhos técnicos e depois nova zona mais corrível. Quando chegávamos a alguma zona que desse para correr qualquer coisita o Vitor (que estava melhor do que eu) dizia "Vamos correr só um bocadinho?" E eu, totalmente esgotada mas totalmente focada na meta, dizia "Vamos!"

Quando temos quase 90 km nas pernas o nosso conceito de corrida muda um bocadinho... Nesta altura quando dizíamos "vamos correr" passávamos duma média de 15 min/km para 9 a 10 min/km. SIM! 10 minutos/km era, para nós nesta altura, corrida. Não fosse eu estar estoirada e até dava vontade de rir. Nós a "corrermos" a 10 min/km e eu a coxear de uma perna. Aquilo não era correr, era arrastar-nos até à meta.

O último PAC nunca mais chegava e eu estava tão, mas TÃO cansada. Eu nem pensava na meta, eu pensava era em tomar um banho quente e em deitar-me. Eu queria TANTO deitar-me!

Mas até isso acontecer ainda ia ter que penar mais umas horas. F***-se!

Neste segmento sofremos ainda mais. Apanhámos zonas de muita lama onde nem corríamos nem caminhávamos, em vez disso patinávamos! Os ténis ficavam presos na lama e tínhamos que fazer força para os tirar de lá. "F***-se!!! C****** para esta m****! Farta desta m****! F***-se!" Ambos soltávamos impropérios. O ritmo desceu drasticamente. Lembro-me de a determinada altura estarmos a 30 min/km!!! Numa descida, que em condições normais daria para correr, íamos super lentos e com muito cuidado para não cair pois a lama escorregava imenso. Patinámos pela descida abaixo e cheguei a cair. Felizmente o rabo amparou-me a queda. Para levantar-me só com a ajuda do Vitor pois o meu gémeo não me permitia dobrar a perna.

Tinha perfeita noção que a única coisa que me movia em frente era a cabeça. Eu ia cortar aquela meta! Nós íamos cortar aquela meta! Comentámos um com o outro que não havia outro desfecho possível senão chegar ao estádio em Abrantes. Mesmo que fosse depois do tempo limite, mesmo que já não fossemos classificados, nós tínhamos que chegar ao Estádio, nós tínhamos que concluir os 100 km. Pelo João e por todos os que estavam a aguardar por notícias nossas. Não podíamos fazer uma desfeita dessas às pessoas. O João tinha vindo de propósito para nos apoiar! Não lhe podíamos fazer isto! Por isso acreditem que nos últimos km's todos aqueles que nos estavam a apoiar e em particular o João foram fundamentais para que continuássemos a colocar uma perna à frente da outra. Obrigada a todos!

Antes de chegarmos ao PAC 11 uma surpresa. Um rio com um túnel/esgoto com água a chegar-nos um pouco acima dos tornozelos. "F***-se para isto! Farta disto!"

Quando chegámos ao último PAC foi um alívio para nós e para o João que já não nos via à algum tempo. Novamente me sentei e uma senhora que estava neste PAC foi super prestável perguntando-me se eu queria alguma coisa e disponibilizando-se para me arranjar café ou chá quente mas eu só queria Coca-Cola e comer mais umas batatas e umas bolachas e ganhar coragem para a última etapa. Estava já num estado de cansaço que nunca antes tinha sentido. Uma coisa indescritível.

À chegada do último PAC, com 92 km nas pernas.
Ele liga aos pais, ela boceja. Vamos na segunda noite...
Uma das minhas fotos preferidas.
Sentada a comer e a falar com o Vitor.
Possivelmente a dizer-lhe que ainda faltam quase 10 km até à meta...
F***-se!

PAC 11 até à META ( km 92 até à meta já perto dos 102 km)

Eu só queria que estes últimos km's fossem planos e corríveis e sem lama. Era tudo o que eu pedia. Por favor!!! E queria um banho quente! E queria deitar-me! Não chorava mas choramingava.

"Nunca, mas nunca mais nos metemos noutra!"..."Ainda bem que não estamos inscritos em mais trails até ao final do ano!", "Tão depressa não quero fazer outro trail! E quando fizermos não passamos dos 30 km!"

Yeah right...

Os poucos atletas que ainda estavam atrás de nós foram-nos passando. Os vassouras já não deviam andar longe e tendo em conta que neste momento já só andávamos, era quase certo que nos iriam apanhar.

A malta que organiza trails tem um sentido de humor peculiar, assim para o sádico. Quando começámos a avistar Abrantes apeteceu-me chorar de alegria mas eu não conseguia chorar, só choramingar de vez em quando, mas óbvio que avistar Abrantes não quer dizer que a meta está já ali... Tínhamos ficado sem relógios por isso já não fazíamos ideia se íamos com 94, 96 ou 98 km. De noite, em trilhos e com mais de 20 horas de prova é difícil ter noção de seja o que for. Aliás, eu e o Vítor já não dizíamos coisa com coisa. Era do desespero. Até à meta ainda nos esperavam algumas subidas, nada de muito difícil mas o suficiente para nos fazer largar mais uns palavrões. E com o frio que entretanto já se fazia sentir estávamos a ficar gelados. Demos as mãos por algumas vezes. O Vitor apesar de tudo não estava tão mal quanto eu e percebeu o meu sofrimento e foi solidário. Estávamos nisto juntos.

A determinada altura lá fomos alcançados pelos vassouras que foram super compreensivos com o nosso ritmo. Já só caminhávamos e mesmo a caminhada não se pode dizer que fosse a grande ritmo. Era o possível. Eu tinha os pés desfeitos e estava cheia de dores no gémeo. Não fazia a mínima ideia se estava ali a arranjar alguma lesão mas ÍAMOS ACABAR nem que eu fosse a rastejar!

Entrámos em Abrantes e já avistávamos as luzes do estádio mas ainda parecia tão longe! Os 2 atletas vassouras disseram-nos que faltava entre 1,5 a 2 km até à meta. Tanto??? Não aguento! Estou estoirada!!! Mas lá continuámos a pôr um pé à frente do outro. Andámos, andámos, andámos e a certa altura o vassoura diz assim "Agora é que faltam 2 km até à meta." Han?!?!?!? Quê????? Eu e o Vitor olhámos um para o outro e acho que ambos mentalmente rogámos pragas ao rapaz. Sorry companheiro mas foi o pior que podíamos ter ouvido naquela altura.

Liguei ao João e disse-lhe que estávamos a 2 km da meta mas que só íamos a caminhar pelo que ainda poderíamos demorar. Tranquilizou-nos dizendo que tinha falado com a organização e que lhe disseram que não eram rígidos com o tempo limite e que esperavam por todos os atletas até ao último.

Estávamos já a menos de 1 km da meta e disseram-nos que ainda havia uma subida mesmo à chegada ao estádio mas era a última... Essa subida estava cheia de lama....Foi para terminarmos em grande...

A entrar no Estádio Municipal de Abrantes onde estava instalada a meta.
Que passada vigorosa... eh eh eh =P

Ao entrarmos no estádio vimos logo o João e os atletas vassoura disseram-nos que para terminarmos em grande teríamos que correr. Ah ah ah, deu-me vontade de rir. Correr já com 100 km nas pernas. Avistámos a meta talvez a uns 200 metros ou nem isso. A única coisa que sentia era cansaço, muito cansaço, muitas dores e alívio, muito alívio por finalmente estarmos a terminar. Corremos. Não me perguntem como, mas corremos muito lentamente com os vassouras atrás de nós a darem-nos força. Eye of the Tiger ecoava pelo estádio, o speaker anunciava a nossa chegada ao microfone. Passadas 22h52m03s cortámos a meta de mãos dadas e com os braços bem lá no alto.

F***-SE! CONSEGUIMOS!!!!!!!

Tudo o que eu sentia era ALIVIO. Felicidade, orgulho, sentimento de superação, isso tudo veio só nos dias seguintes. Na altura só queria tomar um banho quente e deitar-me, mais nada.
A malta da organização deu-nos os parabéns, assim como os vassouras. Atitude 5* da organização.

O João abraçou-nos, ainda me vieram as lágrimas aos olhos mas não chegaram a cair. Falei com o meu pai ao telemóvel e mandei uma mensagem à minha mãe.

O filme da nossa chegada:



FINISHERS do Trail Abrantes 100 =)

O pós-prova

Chegados ao carro houve um momento caricato e que mostra o estado em que eu estava. Entrei para o carro e coloquei primeiro a perna esquerda dentro e a perna direita ficou cá fora. Eu não tinha forças para puxar esta perna para dentro do carro. Eu não conseguia mexer a perna, não conseguia levantá-la. Foi o João que me pegou na perna e pô-la para dentro do carro....
Estava bonita estava...

Chegados ao hotel foi outro filme. Depois de espalharmos terra pelos corredores do hotel (eh eh eh) eu estava tão cansada que disse ao Vitor para ele tomar banho primeiro porque eu precisava de me deitar um bocado. Para não sujar a cama toda, estendi uma toalha e deitei-me em cima dela. Nunca na via adormeci tão rápido. Foi instantâneo e nem dei por nada pois de repente acordei e vi o Vitor e perguntei-lhe se ia tomar banho agora, ao que ele me responde muito espantado "Eu já tomei banho...".  Eu adormeci e nem reparei. Para mim ele ainda ia tomar banho.

Agora era só despir a roupa e tomar banho. Só! O Vitor teve que ajudar-me a despir e inclusive teve que me ajudar a tomar banho pois devido à dor que tinha no gémeo eu não conseguia curvar-me para passar o gel de duche nas pernas. Que filme!

Quando finalmente me deitei no quentinho da cama...nem há palavras. Damos muito mais valor às coisas nestas alturas. Dormimos que nem anjinhos.

Os dias seguintes

Foi com alivio que quando acordámos percebemos que nos conseguíamos mexer =)
O melhor de tudo é que já conseguia dobrar um pouco a perna e já conseguia vestir-me sozinha =P
Os meus pés e os do Vitor também estavam com melhor aspecto apesar de completamente desfeitos.

Foi já com um sentimento de satisfação que coxeámos até à sala dos pequenos-almoços para comer que nem uns reis numa sala cheia de atletas. Ah, o sentimento de felicidade, entusiasmo e orgulho naquela sala era palpável!

Uns dias depois podemos dizer que recuperámos bem melhor do que esperávamos.
Primeiro que tudo praticamente não tivemos dores musculares no corpo. Já houve pós-provas bem piores.
As bolhas foram todas rebentadas, desinfectadas e nos dias seguintes bem besuntadas com creme hidratante. Actualmente os nossos pés estão já bastante aceitáveis.
A minha dor no gémeo ainda é o piorzito mas tem melhorado de dia para dia com muito gelo, pomada anti-inflamatória e massagens e já não coxeio.

Resumindo, foi a maior tareia das nossas vidas mas até que recuperámos bem.

Com as nossas palas de Finisher.

Reflexões pós-prova

Foi, sem qualquer dúvida, a coisa mais brutal que alguma vez fizemos. Eu posso escrever muito mas nunca conseguirei descrever aquilo que senti naqueles últimos 20-30 km's. Uma brutalidade!!! Uma dureza!!!
O corpo estava estoirado e implorava por parar. Convencê-lo a continuar exigiu uma determinação e uma garra da minha parte que eu nem sabia que lá estavam. Somos capazes de coisas que nem imaginamos! Mas é necessário que tenhamos uma força de vontade brutal. Está tudo na nossa cabeça. Claro que é preciso pernas, claro que é preciso treino. Claro que podiamos e deviamos ter treinado ainda mais. Claro que há sempre coisas que se podem melhorar no treino, na alimentação, no descanso, na recuperação pós-treinos mas no final o que é mesmo fundamental é a nossa mente. É ela que comanda tudo! A mente e o coração. Porque isto só foi possível porque sentimos uma imensa paixão pela corrida, pelo trail, pela natureza.

Quando as dores começarem a aumentar, quando as pernas começarem a fraquejar vai ter que ser a nossa mente a intervir, a mostrar o caminho. A fazer-nos acreditar que isto É POSSÍVEL, que NÓS CONSEGUIMOS!

Não é uma prova com muitas subidas, o desnível positivo nem chega aos 3000, tem de facto muitas zonas corríveis, o que não é necessariamente mais fácil mas o mais duro são mesmo as zonas técnicas que surgem já numa fase adiantada da prova quando o corpo já mal aguenta correr quanto mais transpor este tipo de barreiras. Quando quase fizemos os 100 km de São Mamede (relembro que chegámos aos 97,5 km e chegámos a estar em prova 24h) a prova tinha mais D+ que esta, mas posso garantir-vos que esta custou-me muito mais! O D+ é um pormenor importante numa prova de trail mas não é tudo. Que interessa estar numa zona plana se não conseguimos correr devido à lama ou devido à tecnicidade do terreno?
Numa prova deste tamanho há que ter em conta todos os factores e mais alguns e é isso que dá pica ;)

Se vamos voltar a meter-nos noutra?
Tão depressa não, mas uns dias depois já relativizamos melhor a coisa e vemos que o corpo até recupera relativamente bem duma distância de 3 dígitos pelo que...porque não?
Daqui a 2, 3, 4, 5 anos?
Não sabemos, nem pensamos muito nisso agora, mas... não digas nunca ;)

É com orgulho extra que digo que dos 208 atletas classificados nos 100 km, concluíram a prova 22 mulheres e eu fui uma delas =) E fomos apenas 5 seniores.
No mundo da corrida e do trail os homens continuam a estar em maioria mas nós continuamos a provar que somos tão boas quanto eles. Os homens podem ter mais músculo e mais força mas nós temos uma capacidade de sofrimento maior.

Como isto já vai um bocadinho para o longo (se chegaram até aqui parabéns, são ultras!) quero por último dar os parabéns à organização da prova que esteve impecável. Abastecimentos excelentes, percurso muito bem marcado e diversificado, bombeiros nas zonas mais problemáticas e uma meta digna de rei. Fomos os últimos mas a nossa chegada foi espectacular e foi excelente terem esperado por todos os atletas. Muito obrigada.

Um obrigada gigante ao João Lima por todo o apoio ao longo da prova. Nem há palavras!
E por isso esta vitória é dedicada a ele, por ser um amigo incansável.
Obrigada por tudo João!

Queremos ainda dedicar esta conquista aos amigos Sandra e Nuno que estão a passar uma fase muito complicada e a quem enviamos toda a nossa energia positiva. Vocês vão sair vencedores!

Obrigada a todos vocês que estiveram desse lado a acompanhar a aventura à distância através do João. Isto também é para vocês, amigos e família.

Um obrigada aos meus pais. Se eu não tivesse herdado certos traços de personalidade deles se calhar nem corria. Felizmente herdei um lado de aventuras e de doidice da parte do meu pai e um lado de sensatez e mais equilibrado da parte da minha mãe =)

E por último...obrigada ao meu Vitor por alinhar nestas aventuras comigo e por me aturar ao longo de tantas horas seguidas. És a pessoa mais resistente que conheço! Agora vê lá se também vais escrever lá no teu cantinho =P

Estamos felizes. Conseguimos! Somos finishers de uma ultra com 3 dígitos!

ATREVAM-SE A SONHAR! E SONHEM BEM ALTO!