Constância - Manuel Sequeira, João Lima e eu. Foto tirada antes da prova. Como podem ver estamos todos sorridentes. |
A chegar à meta. Vêem o meu sorriso?.... Exacto... |
Antes de descrever aquela que foi provavelmente a minha pior prova até hoje, vou descrever o meu espírito antes da prova.
Primeiro que tudo há que agradecer ao S.Pedro. Depois de uma semana com muita chuva, o dia amanheceu soalheiro. Chegados a Constância ainda tinhamos muito tempo até à partida. Levantámos os dorsais, conversámos, aquecemos. Constância é uma terra lindíssima, e infelizmente foi afectada por inundações. Tivemos mesmo muita sorte com o tempo, embora tenha estado um bocadinho de calor a mais do que estaríamos à espera.
Aqueci e até aqueci bem. Tudo parecia estar bem comigo e ia dar o meu melhor na prova. Tinha até alguma esperança de bater o meu recorde dos 10 km. Desde a Corrida Luzia Dias que isso me está um pouco atravessado. Mas toda a gente me tinha falado no traçado favorável da prova para fazer bons tempos, por isso tinha alguma esperança. Depois da prova de ontem acho que tão depressa nem quero pensar em bater recordes de nada.
Mas vamos então contar como foi a minha prova.
Comecei junto do João, do Nuno e da Sandra. E começamos logo a acelerar. Havia uma subida, a única em toda a prova e agora à distância de 1 dia, penso que posso dizer que se calhar acelerei demais nessa subida. Depois era sempre plano. Segui com o João, mas começou a dar-me dores nas canelas. Em ambas.
O João ia animado e eu não queria desanimá-lo. Mas quando ele me disse alguma coisa, eu não consegui disfarçar (para não falar que já se notava que eu ia a correr um pouco mais devagar) e não hesitei e disse para ele seguir sem mim. O João hesitou um pouco, mas eu disse-lhe para ir. Sei como ele adora esta prova e ainda por cima é uma boa prova para se fazerem bons tempos. Ele foi e desta vez fui eu que o fiquei a ver a serpentear pelo pelotão. Grande João! Continuei a correr, embora cada vez mais devagar. Fui sendo ultrapassada por vários atletas. Ia num "jogo" psicológico, no qual por um lado sabia que deveria andar um bocado para aliviar as dores, por outro não queria fazê-lo, pois isso seria uma derrota.
Nunca antes tinha andado numa prova (excepto na Corrida do Monge, mas essa prova é diferente), não queria começar agora.
Mas as dores não passavam e tive de tomar uma decisão racional e não emocional. Tive de andar.
Como descrever aquele momento em que comecei a andar?
Bem...fui-me um bocado abaixo psicologicamente, estive mesmo à beira das lágrimas. Ainda por cima foi nessa altura que os primeiros atletas começaram a passar por mim já de volta a Constância. Um deles atirou-me um "Força". Estava tão desanimada que nem consegui responder. Se tivesse falado naquela altura, tinha-me ido completamente abaixo e desatado a chorar. Mas aguentei-me. Uns segundos depois outro atleta lançou-me outro "Força". Desta vez fui buscar dentro de mim toda a força que consegui e comecei a correr. As dores não tinham desaparecido completamente, mas agora eram muito ligeiras. Aos poucos comecei a sentir-me bem e comecei a acelerar.
Cruzei-me com o João que já vinha na volta e demos um hi5. Ele perguntou-me como eu ia, eu disse que agora ia bem. E de facto ia. Ia outra vez entusiasmada e agora era eu que ia a ultrapassar vários atletas. Passei pelo retorno e ia bem, ia feliz, ia entusiasmada.
Mas na volta íamos de frente para o sol... O abastecimento chegou ao km 6, mais ou menos a partir daqui comecei a correr mais devagar. Sem dores, mas não me sentia no meu melhor e não forcei. Fui correndo.
Quanto ao percurso só tenho coisas boas a dizer. Vamos sempre junto ao rio, até passámos por uma cascata. Lindíssimo! Só tenho pena que devido ao meu estado, não tenha admirado a paisagem como ela merecia. Mesmo assim a bela paisagem ainda me ajudou.
Os últimos km's não foram nada de especial, já não tinha água e estava desejosa que acabasse a "tortura". Correr assim não é correr. Quando não nos sentimos bem a correr, então para quê corrermos? Mas esforcei-me. O recorde estava já completamente fora do baralho, mas pelo menos queria tentar ainda chegar abaixo da hora.
Consegui. Foram 59m11s. Apesar de já ter feito provas acima da hora, esta foi pior por ter andado, por ter sofrido, por me ter ido abaixo psicologicamente.
A cara com que cheguei à meta diz tudo.
Há dias assim. Depois de ter chegado à meta pus a prova para trás das costas. Era tempo de descontrair.
Fomos à procura do local onde poderíamos tomar banho. Disseram-nos que podíamos tomar banho nos bombeiros. À chegada aos balneários uma senhora avisou-me logo que a água estava fria...Mentalizei-me e meti-me debaixo do chuveiro. A água não estava gelada, mas estava fria. Sobrevivi, mas que custou, lá isso custou.
Depois já era hora do almoço. Tinhamos todos levado comida e combinado fazer um picnic ao pé do Castelo de Almourol. Infelizmente, devido às inundações, as mesas estavam submersas. Após um breve passeio (hihihi) voltámos a Constância. O almoço foi muito agradável, conversámos muito e ouvi histórias muito interessantes.
Excelente companhia. Obrigada a todos! |
Bela almoçarada. Vêem como o meu sorriso já voltou? |
Foi um dia muito bem passado. Graças à excelente companhia praticamente esqueci-me de como a prova me tinha corrido.
Mas mais tarde acabei por concordar que tenho mesmo de ir ver isto das canelas. Já não é a primeira vez que acontece. Não convém facilitar.
Tão depressa não quero pensar em novo recorde aos 10 km. Quando acontecer, aconteceu. Neste momento há coisas mais importantes. Como por exemplo correr bem e feliz e sem dores.
Boa semana caros leitores!
p.s. Fotos por Mafalda Lima (as duas primeiras) e João Lima (a última), excepto a do castelo que fui eu que tirei.