domingo, 5 de fevereiro de 2017

Trilhos dos Reis, primeira ultra do ano com um frio de rachar

15.01.2017

Para primeira prova do ano escolhemos uma ultra e escolhemos uma que já conhecíamos e que no ano passado não tínhamos conseguido terminar, pois este ano a história foi ligeiramente diferente =) 

Podem ler os relatos que fizemos do Trail Centro Vicentino da Serra em 2015 (versão 37 km) e em 2016 (versão 42 km) e comprovar que apesar dos diferentes desfechos sempre adorámos a prova, a sua beleza e dureza e sempre elogiámos a organização.
Ora este ano ainda temos mais razões para elogiar a organização.
Este ano, por razões que eles lá sabem, a prova mudou de nome e passou a chamar-se Trilhos dos Reis. E nos meses anteriores eles bem que se fartaram de fazer propaganda dizendo que ali todos seríamos reis :)

Como de costume fomos no dia anterior para Portalegre. Esta foi a 6ª vez que fomos a Portalegre para provas e já sentimos quase como se fosse uma segunda casa.

Campos do Alentejo, a caminho de Portalegre.

Estávamos a meados de Janeiro, se bem se lembram, fazia muito frio por todo o país. Mas mesmo muito frio!!! Antes da prova começar estavam 3ºC...O que vale é que não estava de chuva.

A prova este ano teria 44,5km e não seria nada fácil, com um grande desnível positivo e muito técnica. O tempo limite também não ajudava mas íamos dar o nosso melhor e estávamos preparados para o "pior" com mantas térmicas, luvas, gorros, frontais, etc.

Como de costume a partida foi dada no mercado municipal e o ambiente era de grande festa.
Antes de uma prova de trilhos, principalmente ultras, é sempre mágico viver este ambiente. Mesmo que a prova depois possa não correr tão bem, não há nada que apague estes momentos de alegria/nervosismo/ansiedade/sede de aventura.





Foi dada a partida e o inicio foi igual ao ano passado, sendo que pouco depois começávamos a subir mas desta vez por outra zona diferente. Uma grande dificuldade que tive nesta prova foi a respiração. Na semana anterior estive bastante constipada e no dia da prova ainda estava aflita do nariz. De tal forma que até optei por não levar os bastões (que muito teriam ajudado nesta prova) pois sabia que iria precisar das mãos livres para me assoar dezenas de vezes ao longo da prova. E assim foi...

O frio era muito mas por volta dos 5 km já tinha aquecido e tirei as luvas. Apesar do frio estava sol o que ajudou muito.
Mesmo assim este era o panorama em muitas zonas:

Erva congelada.

Nalguns sítios, sobretudo naqueles a que ainda não tinha chegado a luz do sol, a erva estava branquinha. Lindíssimo! 

Chegámos ao primeiro abastecimento sem dificuldades de maior e, sabe-se lá como, conseguindo não ser os últimos. E assim nos mantivemos sempre até ao final, sem ser os últimos =)

A partir daqui viriam mais dificuldades. Volta e meia aparecia esta sinaléctica =P



Sempre que via uma placa destas rosnava para dentro (e por vezes para fora eheheh).
A certa altura chegámos a uma zona bastante técnica e com riachos e rochas mas o pior de tudo é que depois iríamos subir e não era pouco. O tipo de subida que deixa qualquer um a rosnar. E o pior de tudo é que quando pensamos que a coisa já acalmou, de repente aparece mais outra subida brutal. E é nestas alturas que inevitavelmente me vem à cabeça "Mas porque é que eu me meto nestas coisas?".
Claro que isto vai durar a prova quase toda e claro que no dia seguinte já estamos a pensar na próxima aventura =) É sempre assim.

Sobe-se mas vale a pena!
Marvão ao fundo.


Uma subida é um duplo problema, a subida em si e a descida que se segue.
Quem faz trilhos sabe que por vezes o pior nem são as subidas, são as descidas. 
Subir é difícil, temos que ter força nas pernas, coisa que tenho em falta e temos que ter uma cabeça forte pois por vezes pode-nos fazer querer desistir. Nesta prova em específico eu tinha uma dificuldade extra, a respiração. Mas lá me aguentei. E o Vitor aguenta-se sempre muito melhor que eu.

Depois desta zona de subidas que ao que diziam era a pior da prova, seguia-se uma descida daquelas "arranca-unhas", inclinada comó raio! 
Terminada a descida tínhamos do nosso lado esquerdo o abastecimento onde comemos mais uma vez bastante bem. Ai as boleimas...mhan mhan mhan :)
Logo a seguir ao abastecimento havia a separação da prova mais curta da ultra. Uns sobem, outros descem, claro que nós tínhamos que subir!
Uma coisa que a certa altura nos começou a aborrecer foi o facto de praticamente não haverem zonas nenhumas corríveis. Nós gostamos de sobe e desce e de zonas técnicas mas também gostamos de correr como é óbvio! E praticamente não me lembro de zonas corríveis nesta prova. Mas isto, claro, tem a ver com o nosso gosto pessoal. Mas confesso que a certa altura já não nos estávamos a divertir.
O que vale é que de vez em quando havia uma placa engraçada para nos animar ou uma paisagem linda.


Uma cascata em plena Serra de São Mamede.
Não se vê bem mas ela está lá e ainda é grande.

Estávamos agora numa zona bastante técnica e volta e meia lá tinha a Isa de sacar do seu lencinho de papel. Não gozem! Eu bem tentei utilizar a famosa técnica de tapar uma narina com o dedo e depois deitar tudo cá para fora mas não correu bem...não tenho jeitinho nenhum, prefiro os meus lencinhos branquinhos =P

Vaquinhas felizes.
Isto é que é vida! Deitadas na relva ao sol!
Também queremos!!!

Chegados ao penúltimo abastecimento informam-nos que há um barramento no abastecimento seguinte e que será às 16h. São 15h35...
O Vitor aproveita para beber um café Delta, comemos mais algumas coisas e seguimos caminho um pouco resignados e até chateados por irmos ser barrados. 
E então surge um anjo! Ao longo da prova haviam vários voluntários e este foi um verdadeiro anjo com uma boa nova.
"Vocês estão bem?"
"Sim.", respondemos nós um pouco resignados.
"Não sei se já vos disseram mas no próximo abastecimento serão barrados mas podem continuar se quiserem pois o vassoura ainda vem atrás de vocês com outro atleta e esse atleta já disse que quer continuar apesar de já não ser classificado e o vassoura vai com ele até ao fim. Por isso se vocês quiserem também podem continuar embora seja da vossa responsabilidade."
Parece que renascemos! Conversámos e decidimos continuar. Ok, é chato não sermos classificados. Mas o nosso objectivo não é terminar? O nosso objectivo não é sentirmos que conseguimos? Que somos capazes?
Tínhamos conosco os frontais e começámos a fazer contas e percebemos que não iríamos precisar deles mais de 1h. Siga que o caminho é em frente! =)
Mas não foi fácil, o percurso continuava técnico e nada fácil. 

Chegámos ao último abastecimento onde fomos bem recebidos com sopa quente e tudo! E onde nos informaram oficialmente que ali havia um barramento e que teríamos que entregar os nossos chips. Como já estávamos preparados, entregámos na boa até porque foram super correctos e educados conosco.
O senhor coitado fartou-se de nos pedir desculpa. 
Informámos que iríamos continuar pois tínhamos frontais para a noite e estávamos bem agasalhados.
Entretanto chegou-se outro voluntário ao pé de nós e perguntou ao outro se estava tudo bem, ao que ele responde "Está tudo bem, este casal está a ser super simpático e correcto, nem imaginas o que eu já apanhei aqui hoje!" E contou-nos como alguns atletas não queriam aceitar o barramento chegando a ser mal educados e como muitos seguiram só de t-shirt!!! E outros sem frontal!
Que se fique chateado com um barramento é aceitável, nós ao inicio também ficámos, mas nunca ser mal educado com a pessoa que está  a transmitir-nos a má notícia. Agora ser irresponsável seguindo sem um bom agasalho e sem frontal no meio da serra!!! Acho que é demais.

É inevitável comparar este barramento com o dos 100 de São Mamede, aqui fomos bem tratados apesar da má noticia e até nos disseram várias vezes que podíamos continuar embora já fosse à nossa responsabilidade. A diferença de trato foi notória daí termos aceite este barramento quase na boa.

O homem pediu-nos desculpa sei lá quantas vezes. Vai daqui um grande abraço a este senhor!

Já com o frontal a postos na cabeça, embora ainda desligado, seguimos caminho que nos foi indicado pelo mesmo senhor, pois dentro da aldeia já tinham retirado as fitas. Seguimos até ao local onde havia novamente fitas, a partir daqui estávamos por nossa conta. Mete um pouco de respeito, mas também sabíamos que estávamos bem agasalhados, com água e comida na mochila, luz e até pilhas sobressalentes para os frontais.

Pouco depois apanhámos foi um susto, pois estavam dois voluntários num local e já tinham retirado algumas fitas. Falámos com eles e eles indicaram-nos o caminho. Seja como for ainda foram umas centenas de metros sem fitas, o suficiente para assustar. Sem fitas como saber o caminho?

Estávamos quase com 40 km nas pernas e estava a ficar cada vez mais escuro, usámos os frontais só para aí nos últimos 45 minutos.
Ainda tivemos duas cenas caricatas, uma foi ao entrarmos numa quinta. Uns cães resolveram-nos fazer escolta até sairmos da propriedade deles. Sempre a ladrar...Um deles era mais zeloso do seu espaço e acompanhou-nos sempre a ladrar mesmo até ao portão. Ufa! Adoro cães mas ser escoltada por três grandalhões mete respeito.

A outra cena caricata foi a seguinte:



Em plena serra, no meio de nenhures, uma banda de rock/heavy metal ensaia. Muito bom!
Pouco depois do concerto ligámos os nossos frontais e seguimos com atenção redobrada pois se fazer uma prova à noite na serra já exige muita atenção, seguir o caminho de uma prova onde oficialmente já fomos desclassificados e onde ninguém estará à nossa espera...exige ainda mais cuidado.
Estávamos sempre a ver se víamos fitas e só descansei quando começámos a avistar Portalegre.
Começámos finalmente a descida para a cidade mas chegados à estrada já em Portalegre deixámos de ver fitas. Ainda procurámos mas não víamos nada. Agora também já não interessava, estávamos em Portalegre, só tínhamos que encontrar o caminho para o mercado.
Começámos a descer e um carro com, possivelmente, atletas lá dentro parou e o condutor perguntou-nos se queríamos boleia para o mercado. BOLEIA??? Rapidamente e em unissono dissemos que não e pedimos só indicações para lá chegarmos. Boleia? Depois de termos feito 44 km a pé? É que nem pensar! Se era para terminar, era para o fazer como deve ser! A pé até à meta!

E lá fomos nós :)
Chegámos junto do mercado mesmo com 44,5 km e já com a organização a retirar o pórtico da meta. Já nem entrámos dentro do mercado, estava feita! A nossa 1ª ultra do ano. Pode não ter sido oficial, mas nós concluímo-la =)

Depois disto, tudo o que queríamos era um banho quentinho pois estava cá um gelo! Chegados ao balneário este já estava fechado...lembrámo-nos de irmos à pensão onde ficamos alojados sempre que vamos a Portalegre e a senhora foi super simpática e deixou-nos tomar banho num dos quartos :) Mais outro anjo :)

Ainda bem que tomámos um banho quente, pois na viagem de regresso a Lisboa, ainda no Alentejo e por volta das 20h30 o termómetro do carro marcava 0ºC...

E foi mais uma aventura do casalito. Não foi perfeita, custou muito e nem sequer fomos classificados mas acabámos, conseguimos! Venha a próxima! ;)

8 comentários:

  1. Muitos parabéns (novamente!) pelo vosso esforço e por terem concluído a prova!
    Esse tratamento devia ser sempre assim e nem vou comparar com outro bem triste (e perto daí...).
    Provaram, uma vez mais, a vossa resiliência e contam agora com mais uma aventura :)
    Só tenho pena é de não conseguir ver na foto a cascata...

    E pronto, já tens o blogue em dia... opps! já não tens :)

    Beijinhos e abraços ao ultra casalito :)

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    1. Obrigada João :)
      Foi mais uma grande e bela aventura.
      Acredita que é uma bela e ainda grande cascata. A foto realmente não ficou grande coisa.

      Eu bem queria ter isto em dia mas está quase, só falta a de hoje ;)

      Beijinhos e abraços

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  2. Como é que te lembras de tudo, passadas algumas semanas?:)
    Foi pena não ficarmos classificados, mas o principal foi termos concluído a prova. Nós sabemos que conseguimos!
    De resto, nada de negativo a acrescentar, prova bem organizada e pessoas muito simpáticas.
    Mais um grande fim de semana!

    Beijos gigantes

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    1. Porque tenho boa memória :)

      Não foi a forma perfeita de começar o ano em provas, mas foi uma boa forma, vivemos e concluímos mais uma aventura de resistência.
      E foi mais um agradável passeio a Portalegre.

      Beijos ultra gigantes

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  3. É esse o espirito!!! Pétaculo meninos!!! E não custa nada ser educado não é? Boa estreia em 2017, um ano que promete.
    Beijinhos

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    1. Obrigada Perneta Carlos =)
      Esta foi bem durinha mas valeu a pena.
      Beijinhos e abraços

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  4. Que grande relato de uma prova dura , muito dura.Pena não serem classificados depois de tanto esforço...mas valeu , chegaram e concluíram sempre juntos o que fazem de vocês um "casalito" fantástico!!Lindos!!

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